A Naturalização do assédio: existe, mesmo, liberdade para as mulheres? - Generalizando
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A Naturalização do assédio: existe, mesmo, liberdade para as mulheres?

A Naturalização do assédio: existe, mesmo, liberdade para as mulheres?

No dia 13 de junho de 2020 mais uma denúncia de assédio sexual veio a público. Dessa vez envolvendo um dos colégios mais tradicionais do Rio de Janeiro. Dois docentes do Colégio Santo Inácio, que fica em Botafogo, Zona Sul da cidade, foram afastados depois de denúncias de alunas e ex-alunas que afirmaram terem sido vítimas de assédio dos professores.

As denúncias realizadas pelas redes sociais e de forma anônima levou muitos pais a endossarem o posicionamento que cobra respostas concretas dos gestores da escola. Alguns pais, inclusive, disseram que essas condutas não têm sido tratadas de maneira séria pela escola, que estaria preocupada em “abafar” o caso com o intuito de evitar “manchar” a sua imagem. Em resposta ao posicionamento dos responsáveis a gestão do colégio anunciou que está inaugurando um canal de ouvidoria independente para receber todas as denúncias. Os professores acusados foram afastados e responderão juridicamente.[1]

Situações como as descritas acima, infelizmente, fazem parte do cotidiano da vida de mulheres e meninas na sociedade brasileira. Afinal, somos nós as maiores vítimas desse comportamento orientado por uma lógica machista. Estas condutas criminosas violam o corpo e a psique das vítimas, uma vez que os traumas deixados por essas ações afetam a autoestima e a segurança dessas mulheres/meninas.

O assédio é criminoso e covarde, uma vez que faz uso de uma relação de hierarquia como no caso professor-aluno, gerente-colaborador, patrão-empregado, se aproveitando da vulnerabilidade dos envolvidos. Ele é também machista, porque a ideia de que mulheres são objetos para satisfazer as vontades masculinas está presente nessa conduta. Por tudo isso é que deve ser combatido fortemente.

A sociedade de uma maneira geral, bem como as instituições como empresas e escolas não podem ser coniventes como esse tipo de atitude. Nem tão pouco minimizar ou naturalizar esse tipo de conduta. Um dos maiores desafios desses casos está no fato da vítima ser culpabilizada pelo assédio, seja por seu comportamento, por sua roupa ou pela maquiagem que estava usando. O que é preciso descontruir porque não é culpa dela! As mulheres têm o direito de serem livres para usar a roupa que quiserem e frequentar os lugares que desejam.  Isso não pode ser argumento para culpá-las pela violência sofrida.

Os corpos femininos são lócus de disputas ao mesmo tempo que são considerados “públicos”. Por isso, nós mulheres não temos o direito, de fato, de vivenciar a nossa liberdade. Somos nós que sentimos medo ao sair às ruas. Medo da violência física, sexual e simbólica que é perpetrada em nossos corpos e que marcam nossa existência. E esse medo tem razão de ser como nos mostram os dados de um levantamento do Datafolha feito em fevereiro de 2019 pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) para avaliar o impacto da violência contra as mulheres no Brasil.

Segundo o relatório, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda.

Esses números deixam claro que não há lugar seguro para as mulheres e o silêncio da sociedade, diante desses fatos corrobora o machismo e “alimenta” esses tipos de práticas que estão marcadas por uma ideia de impunidade e nos leva a questionar se somos verdadeiramente livres!

[1] Disponível em: www.oglobo.com.br

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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