A série Sex Education e os dilemas sobre sexualidade na adolescência - Generalizando
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A série Sex Education e os dilemas sobre sexualidade na adolescência

A série Sex Education e os dilemas sobre sexualidade na adolescência

A série Sex Education lançada pela Netflix em 2019 e que agora está em sua segunda temporada, traz à tona as inseguranças e dúvidas vivenciadas por adolescentes sobre sexo e sexualidade. Há vários eixos temáticos de fundamental importância e sensibilidade nessa produção pois, chama atenção para as dúvidas recorrentes de meninos e meninas sobre o início da vida sexual, sobre prazer, doenças sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos entre outras.

Como o título da produção sugere o foco é a educação sexual. De forma leve e descontraída temas delicados são explicitados. É sabido que essa fase da vida é permeada de dúvidas e inseguranças. O autoconhecimento está sendo construído e desse modo questões que permeiam essa construção devem ser tratadas de forma clara pela família e também pela escola.

 

No momento em que a segunda temporada da série vem sendo alvo de críticas positivas nas redes sociais somos surpreendidos com uma proposta de política pública que visa, ao menos é o que seus defensores afirmam, olhar com atenção para problemas vivenciados por adolescentes e que estão relacionados a vida sexual. O foco principal dessa política é a gravidez na adolescência. Que é um problema de fato, não só no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem 68,4 bebês nascidos de mães adolescentes a cada mil meninas de 15 a 19 anos. O índice brasileiro está acima da média latino-americana, estimada em 65,5. No mundo, de acordo com a OMS, a média é de 46 nascimentos a cada mil.[1]

Entretanto, a política pública que visa “solucionar” esse problema, defende a abstinência sexual ao invés de somar esforços para que seja implementada de maneira efetiva e eficaz um modelo de educação sexual. Diante da publicação da construção dessa política, inúmeras entidades e autoridades científicas manifestam-se contra, apontando a ineficiência desse tipo de ação para a diminuição significativa de adolescentes grávidas. O que todas essas autoridades científicas afirmam é que comprovadamente o acesso a informações adequadas e claras sobre sexo, sexualidade, contraceptivos é a forma mais eficiente de se combater esse problema.

Além de não se ter comprovações científicas de que a abstinência sexual, é de fato eficiente, nesses casos, é preciso considerar que as bases dessa política estão fundamentas na religião, retirando assim, a importância da educação sexual realizada na escola, por exemplo. Quando se critica ou proíbe a discussão de gênero, sexualidade ou sexo nas escolas limita-se significativamente o acesso de meninos e meninas a informações que são imprescindíveis para uma vida saudável, responsável e planejada. E nesse cenário são os mais pobres e mais vulneráveis socialmente que têm muito a perder.

Por mais que a família seja um lugar de importância significativa para a educação sexual é preciso atentar para o fato de que, no nosso país, a abissal desigualdade social é responsável pela reprodução de comportamentos e hábitos precários. Para adolescentes advindos desse contexto social é a escola, talvez, o único lugar onde suas dúvidas e inseguranças podem ser respondidas. Segundo pesquisas o número de gravidez na adolescência é maior entre meninas pobres.

Além do mais, até mesmo famílias mais estruturadas podem encontrar dificuldades em identificar e tratar os sentimentos de insegurança e as dúvidas em relação a vida sexual dos adolescentes. A exemplo da série, citada nesse texto, um dos personagens é filho de uma terapeuta sexual e mesmo assim, não consegue estabelecer de forma clara e sincera com a mãe um diálogo sobre suas questões sexuais.

Ao tratar de temas tão importantes, atuais e delicados como sexualidade, uma inesperada gravidez e o aborto, Sex Education nos mostra que o caminho para a vivência de uma vida sexual saudável e responsável passa pelo diálogo, a escuta compreensiva e atenta e também pela ação e comprometimento de instituições como a família e a escola  com a educação sexual.

[1] Dados disponíveis em: http.: www.g1.com. Acessado em: 06/02/2020.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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