Representatividade Feminina e Cinema: conheça o teste de Bechdel - Generalizando
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Representatividade Feminina e Cinema: conheça o teste de Bechdel

Representatividade Feminina e Cinema: conheça o teste de Bechdel

Há algum tempo, parte da sociedade, inspirada pelas reflexões dos movimentos feministas, vêm problematizando a representatividade feminina nos espaços sociais, como:  o mercado de trabalho, a política e também na indústria cinematográfica.

No caso do cinema, o que está em pauta não é apenas o número de mulheres atuando e/ou dirigindo pequenas, médias ou grandes produções e sim como essas personagens são representadas. Estereótipos de gênero ainda são muito comuns nesse tipo de produto. A mocinha ingênua e apaixonada esperando pelo príncipe encantado, a mulher fatal ou a fútil. Isso incomoda, não é?

Foi esse incômodo e estranhamento que levou em 1985, a cartunista Alison Bechdel a criar o teste de Bechdel. Segundo Alison, que inseriu esse teste em uma de suas tirinhas, a inspiração veio de uma amiga que praticava karatê com ela. Essa amiga, por sua vez, havia se inspirado na obra “Um teto todo seu” de Virginia Woolf.[1]

Mas, deixando de lado a inspiração para a criação do teste, vamos entender como ele funciona. Para que uma produção seja considerada “igualitária” em termos de gênero seria necessário que apresentasse três condições, a saber: ele precisa contar com duas mulheres, que conversem entre si por pelo menos um minuto, sobre algum assunto que não envolva um homem e que não seja sobre relacionamento.

O que o teste aspira é verificar se a representatividade feminina está, de fato, presente na obra. A representatividade do sujeito mulher e não do perfil socialmente construído sobre o que é ser mulher, aquele preconceito que relaciona conversas entre mulheres com fofoca, relacionamentos/queixas dos maridos ou filhos. As mulheres conversam e se interessam por outros assuntos como política, economia e ciência. Apesar disso ser ainda muito pouco retratado na indústria do entretenimento.

Recentemente, algumas produções têm se destacado por mostrar personagens femininas que rompem com os estereótipos de gênero socialmente construídos, apresentando mulheres fortes, decididas, que escolhem seu futuro e salvam a si mesmas. Em 2012, a Pixar Animation Studio nos apresentou Merida uma princesa que questionava o papel que tinha sido definido para ela, se recusava a casar com o pretendente escolhido pela família, gostava de arco e flecha, usava os cabelos soltos negando-se a domá-los como se negava a seguir as tradições daquele contexto. Esse é apenas um exemplo de muitos outros que poderíamos citar.

Muitas pessoas se perguntam por que representatividade é assim tão importante, sobretudo nas produções que estão aí para entreter. Por que problematizar isso? Porque meninas e mulheres ao redor do mundo constroem, em boa parte, sua percepção de si e sua autoestima a partir desses estímulos. Se mostramos para as nossas meninas que elas são frágeis e que precisam sempre de um homem forte para protegê-las, há grandes chances delas se enxergarem dessa forma.

Por isso é tão importante tratarmos de representatividade, mostrarmos às meninas e as meninas negras que elas são lindas como são, capazes de fazer qualquer coisa e que não precisam esperar por nenhum tipo de príncipe encantado, até porque há grande chance de encontrarem um sapo.

Como tudo na vida, o teste não é uma unanimidade. Existem muitas críticas à sua metodologia, no entanto, é válido fazer esse exercício. Que tal você tentar aplicá-lo quando for assistir sua próxima série ou filme?

[1] O livro traz uma reflexão acerca das condições sociais da mulher e sua influência na produção literária feminina.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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