Mulheres: naturalmente más? - Generalizando
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Mulheres: naturalmente más?

Mulheres: naturalmente más?

Que resposta você daria para o questionamento do título? Será que alguém responderia afirmativamente? Por mais que hoje  tenhamos consciência do absurdo que seria afirmar que as mulheres são naturalmente más, durante muito tempo essa “crença” se propagou.

No século XVIII, filósofos iluministas defendiam a tese da desigualdade natural entre homens e mulheres, bem como a fraqueza moral das últimas. E foi justamente nesse contexto que uma mulher se contrapôs a todo esse pensamento machista.

Mary Wollstonecraft foi uma filósofa do século XVIII que produziu registros históricos sobre a Revolução Francesa, fez comentários acerca da postura de pensadores homens que julgavam as mulheres inferiores, como Rousseau, escreveu romance e livros infantis que questionavam a ordem sexual e de gênero. Além disso, foi uma importante defensora do direito das mulheres se educarem e da igualdade no casamento. A filósofa também ficou conhecida, mais tarde, como a mãe de Mary Shelley, autora da célebre obra Frankenstein.

Mais de um século antes de Simone de Beauvoir, Wollstonecraft já elaborava os primeiros pensamentos sobre as estruturas que oprimiam as mulheres, buscando sinalizar as suas raízes. Como afirmou a filósofa, “Desafortunada é a situação das fêmeas, educadas de acordo com a moda, mas deixadas sem fortuna alguma” (1787).

Alguns dos mais célebres filósofos iluministas, Jean-Jacques Rousseau, afirmou que a submissão da mulher ao homem se dava, principalmente, por sua fraqueza moral. Ora, o que seria essa fraqueza moral? Uma espécie de destino da natureza que recai sobre as mulheres, tornando-as naturalmente más e incapazes. Wollstonecraft tratou de rebater o filósofo afirmando que o caráter feminino apregoado por Rousseau não é natural, mas decorrente do tipo de educação recomendada para as mulheres.

A partir de então, Wollstonecraft passou a defender que as mulheres não estudassem apenas para se tornarem  “boas esposas”, “é assim, por exemplo, que a demanda por educação tem por objetivo exclusivo permitir o livre desenvolvimento da mulher como ser racional, fortalecendo a virtude por meio do exercício da razão e tornando-a plenamente independente”, (WOLLSTONECRAFT, 1792).

Mesmo com os esforços de Mary Wollstonecraft, que naquela ocasião, já apontava que a educação seria a chave para a libertação de sua incapacidade dita natural, as mudanças não ocorreram de imediato. Mas, foi um importante passo para a luta pelos direitos das mulheres.

Atualmente, Wollstonecraft tem sido recuperada por historiadoras feministas e estudiosos da Revolução Francesa, consagrando-a como fundadora do feminismo na Europa. O que nos leva a pensar em quantas mulheres foram importantes para que hoje pudéssemos desfrutar, ao menos legalmente e em alguns territórios, do status de igualdade. E quantas delas ficaram durante muito tempo sem o devido reconhecimento.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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