A cor da pobreza no Brasil
Pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no último dia 03 de dezembro aponta que o rendimento familiar das pessoas declaradas pretas ou pardas no Brasil foi, em média, 73,3% menor do que o da população branca em 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19.
Os dados, que fazem parte do estudo “Síntese de Indicadores Sociais”, detalham que a população branca tinha um rendimento médio de R$ 3 mil reais mensais, enquanto as pessoas pretas e pardas recebiam, em média, R$ 1,3 mil por mês.
Infelizmente o que revela a pesquisa não é, necessariamente, uma novidade no Brasil. Ao contrário, corrobora com a constatação das profundas assimetrias da nossa sociedade que são intensificadas pela raça e pelo gênero.
A estrutura social brasileira é desigual e nessa realidade pretos e pardos são sistematicamente submetidos a menores salários (mesmo quando exercem a mesma função), a trabalhos precarizados e ao desemprego. A mesma pesquisa revela que 2020 foi o ano de maior índice de desempregados no país, apenas 51% da população possuía trabalho formal.
Como sinaliza Almeida (2018), a desigualdade pode ser expressa em números e em estatísticas, mas para compreendê-la é preciso se debruçar sobre a sociedade e seus inúmeros conflitos. Os números podem demonstrar que algumas pessoas recebem mais do que outras, ainda que com a mesma formação ou ocupando o mesmo cargo, no entanto para compreender essa dinâmica é preciso ir além dos números. Muitos dirão que, a eficiência ou a meritocracia seriam elementos explicadores para tal cenário. Mas, quando a eficiência e a produtividade não podem ser invocados como elementos explicativos? E quando as pesquisas e as estatísticas revelam que, independente da produtividade, pessoas de um mesmo grupo social, como negros e mulheres recebem os menores salários? Como explicar o fato dessas mesmas pessoas encontrarem-se, majoritariamente alocados em postos de trabalho precários?
Inúmeros estudiosos têm demonstrado que a raça e gênero são marcadores determinantes da desigualdade econômica e social. Desse modo, políticas de combate à pobreza que não levam em conta esses fatores tendem a ser menos efetivas.
As mulheres negras são as mais pobres no mundo todo[1] e são as que sentem de forma mais agudizada os efeitos das crises que assolam as sociedades. São elas também as que possuem menos acesso a tratamentos de saúde e exames periódicos (como mamografia) e as que estão em maior número na informalidade.
Esse é o retrato da desigualdade que tem cor e gênero e que nos inclina à reflexão proposta por Almeida (2018) na obra O que é racismo estrutural? “ […] Por isso, diversidade não basta, é preciso igualdade. Não existe e nem nunca existirá respeito às diferenças em um mundo onde pessoas morrem de fome ou são assassinadas pela cor de sua pele”.
[1] Ver dados da OXFAM em: http.://www.oxfam.org.br
Ainda não há comentários, seja o primeiro