Interseccionalidade no feminismo: o que isso significa? - Generalizando
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Interseccionalidade no feminismo: o que isso significa?

Interseccionalidade no feminismo: o que isso significa?

Você já deve ter se deparado com o termo interseccionalidade em conversas, debates e entrevistas que têm como tema central desigualdades, sobretudo em uma abordagem feminista. Mas, já parou para pensar no seu significado? O por que de  ser tão utilizado? E sua importância para o feminismo?

Interseccionalidade é uma palavra que nos permite compreender melhor a complexidade da desigualdade social, uma vez que possibilita apreender classe, raça e gênero como elementos de opressão e discriminação que se entrecruzam.

Por outro lado, esse conceito pretende demonstrar que o feminismo branco, classe média, cisgênero e capacitista representa apenas um ponto de vista e não reflete, de modo algum, as vivências das diferentes mulheres existentes.

Os debates sobre interseccionalidade surgiram a partir de lutas e teorizações dos feminismos negros nos Estados Unidos da América e do Reino Unido entre os anos de 1970 e 1980, entretanto, foi somente em 1989 que o termo foi sistematizado por Kimberlé Crenshaw, teórica feminista estadunidense.

Antes de Crenshaw nomear a interseccionalidade, outras importantes teóricas feministas negras já reconheciam o caráter híbrido das demandas das mulheres, sobretudo as mulheres negras. Esse é o caso da obra Mulheres, Classe e Raça de Angela Davis, que se tornou uma importante referência para os estudos interseccionais mesmo antes de sua formalização.

A interseccionalidade também pode ser lida como uma teoria da justiça social e também uma teoria das desigualdades, pois explica como eixos de poder relacionados à raça, etnia, classe e gênero estruturam os terrenos sociais, políticos e econômicos em que vivemos.

Segundo Crenshaw, a interseccionalidade é:

 

Uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento” (2002).

 

De acordo com a teórica, esses eixos são excludentes e distintos. Por exemplo,  racismo é diferente de patriarcalismo, mas no entanto, eles podem se interligar criando complexas intersecções onde dois ou mais eixos acabam se cruzando. Desse modo, para além dos marcadores de classe, raça/etnia e gênero, outros devem ser trazidos à baila neste tipo de análise, como sexualidade, capacidade física e localização geográfica.

Mesmo considerando que este debate tem seu núcleo central inicial nos Estados Unidos da América é importante salientar que a abordagem norte- americana é reducionista, pois não inclui a realidade, por exemplo dos países da América Latina,  onde a questão da mulher indígena se impõe fortemente.

No Brasil autoras como Sueli Carneiro, Luiza Barros, Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento, apesar de não trabalharem o conceito em si, utilizam premissas que o antecedem em seus estudos.

A interseccionalidade tem estimulado importantes trabalhos e análises críticas, encorajando reflexões responsáveis sobre as consequências estruturais desses poderes que criam relações de subordinação. Além disso, permite que pensemos na adoção de  políticas públicas eficazes para a verdadeira inclusão social.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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