Machismo Discursivo: formas (não tão) sutis de silenciar as mulheres
A cena é comum e se repete no nosso cotidiano. Em uma reunião de trabalho, em um encontro com amigos ou no espaço político, mulheres são constantemente interrompidas por seus colegas/amigos/parceiros homens. Além da interrupção no momento em que a mulher está expondo suas ideias e opiniões, existe uma outra prática comum, aquela em que um homem tenta explicar algo que é óbvio para uma mulher.
As situações expostas acima, são práticas do machismo discursivo, sendo nomeadas de manterrupting e mansplaining. Há quem se pergunte sobre a necessidade de dar nomes às práticas que são “comuns” em uma sociedade, como se ao nomeá-las houvesse uma problematização exagerada. Será? Nomear a violência ou as violências é um passo importante para que possamos compreendê-las e combatê-las.
Uma das formas de reprodução e perpetuação da dominação masculina é por meio da linguagem. Afinal, é por meio dela que construímos representações simbólicas sobre o mundo social. Como afirma Bourdieu (2002, p. 6), é pela linguagem que aprendemos e incorporamos “sob a forma de esquemas inconscientes de percepção e de apreciação das estruturas históricas da ordem masculina”. A linguagem é permeada de poder.
Essas estruturas de dominação são responsáveis por alguns legados poderosíssimos, dentre eles a diferença da socialização entre homens e mulheres no que tange o uso da linguagem. Nas palavras de Bourdieu trata de um trabalho de socialização que pretende negar, diminuir e silenciar as mulheres.
A imposição cultural do silêncio como norma de boa conduta para as mulheres é uma violência simbólica. Aquele tipo de violência que pode se apresentar de maneira sutil e que nem sempre é percebida por aquelas que são vítimas dessa prática.
Ao interromper uma mulher, impedindo que ela conclua seu pensamento e exponha seus argumentos, os homens buscam invalidar ou desconsiderar a fala e o conhecimento prévio dessa mulher.
Vejamos, a linguagem é permeada de símbolos sociais, serve como instrumento de perpetuação da violência simbólica contra as mulheres. As práticas apresentadas ao longo desse texto, demonstram isso. Afinal, crescemos e fomos iniciadas em uma cultura que não legitima o pensamento, os argumentos e as opiniões de meninas e mulheres.
Superar esse cenário passa por reconhecermos a existência e a permanência dessas práticas de silenciamento, que se pretendem sutis, mas como pudemos perceber estão explicitadas em inúmeras atitudes e ações do cotidiano. Reivindicar a validação do que é dito pelas mulheres, nos mais variados espaços, faz parte do combate ao machismo discurso.
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