Os efeitos econômicos da Pandemia afetam mais as mulheres? - Generalizando
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Os efeitos econômicos da Pandemia afetam mais as mulheres?

Os efeitos econômicos da Pandemia afetam mais as mulheres?

A pandemia do novo coronavírus vem causando efeitos danosos para os sistemas de saúde de todo mundo. Faltam leitos de UTI, respiradores, remédios, EPIs (equipamento de proteção individual) para os trabalhadores da área da saúde. Além dos problemas dessa natureza, é ponto passivo os efeitos da pandemia na economia global. O isolamento social, única prática eficiente até o momento para conter o avanço do vírus e evitar a colapso nos sistemas de saúde, retirou das ruas milhares de trabalhadores, fechou comércios, escolas e fez paralisar a produção de alguns tipos de indústria.

Todo esse cenário levou ao aumento do número de demissões e a flexibilização de contratos de trabalhos (permitidos legalmente), que diminuem a carga horária do trabalhador e também seu rendimento, que dependendo da realidade, pode ser complementado pelo Estado.

Diante desse cenário, inúmeros estudiosos e algumas pesquisas já sinalizam para o fato de que serão as mulheres que sofrerão mais fortemente os impactos dessa crise que se aprofunda. Atualmente metade das trabalhadoras atuam na informalidade e 30% do total de mulheres economicamente ativas estão em situação de subutilização, ou seja, em situação de extrema vulnerabilidade econômica e social.[1]

Com isso, a perda de postos de trabalho e a dificuldade que as mulheres têm para se inserir no mercado, por uma série de impedimentos como a responsabilidade com as tarefas domésticas e de cuidados, concorrem para uma piora significativa das condições de sobrevivência tanto para essas trabalhadoras como para os seus dependentes.

Essa é uma realidade em todo o mundo. Segundo observa Sara Falcão, professora do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa e coordenadora do projeto Women on Boards, as mulheres são a maioria nas áreas laborais mais afetadas pela pandemia, como nos serviços de saúde. E em caso de aumento no desemprego as mulheres serão as primeiras a serem penalizadas no regresso ao mercado de trabalho em praticamente todos os setores de atividade.

Nos Estados Unidos a situação não é diferente. A crise provocada pela COVID-19 está afetando principalmente as trabalhadoras. Dados levantados pelo Fuller Projetc[2], revelam que as mulheres representam a maioria dos trabalhadores que solicitou seguro-desemprego durante as duas últimas semanas de março em pelo menos cinco estados. Esses dados contrariam os das últimas quatro décadas, onde os homens eram mais impactados pelo desemprego durante uma recessão.

A explicação para esse cenário é que a desaceleração começou pelo setor de serviços, onde as mulheres estão presentes em um número bem maior que os homens como nos serviços de faxina e salões de beleza, assim como as babás e empregadas domésticas.

No Brasil já é possível observar alguns sinais desses impactos para as mulheres. De acordo com o IBGE, todos os setores demitiram no 1º trimestre de 2020, o que levou a maior retração registrada desde 2012. Ainda segundo esse levantamento, o serviço doméstico teve a maior queda, de 6,1%. Houve também retração em parcela dos considerados informais, como os trabalhadores sem carteira assinada.

Considerando que o trabalho doméstico é majoritariamente exercido por mulheres, segundo o IBGE 92,3% do contingente é feminino. Elas já estão sentindo na pele os impactos da crise. Historicamente as mulheres possuem inserção diferenciada no mercado de trabalho, com acesso desigual a direitos e salários e estão, em maioria, em postos de trabalhos precários. Isso as colocam em situação de vulnerabilidade social. Dessa forma, os efeitos de uma recessão podem ser mais trágicos para elas.

O que se espera é que os Estados sejam capazes de dar respostas contundentes às demandas que irão se apresentar, no sentindo de minimizar os efeitos dessa pandemia, direcionando gastos e esforços para a proteção social. Além de dar respostas efetivas para as desigualdades estruturais que sempre estiveram presentes na vida das mulheres.

[1] Dados apresentados em: www.brasildefato.com.br. Acessado em: 06/05/2020

[2] Organização de notícias sem fins lucrativos.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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