O que é a “síndrome da impostora” e por que ela atormenta tantas mulheres?
O que é a “síndrome da impostora” e por que ela atormenta tantas mulheres?
Vivemos em um mundo de muitas cobranças, onde as expectativas são altas e, quase sempre, dizem mais sobre os outros do que sobre nós mesmas. Estamos caminhando em linha reta, na busca por oportunidades iguais, valorização e garantia dos nossos direitos. Mesmo assim, muitas de nós, quando alcançam esses objetivos, se sentem invadidas por um sentimento de não merecimento e de inferioridade.
A atriz britânica Kate Winslet, vencedora de um Oscar, um Emmy e quatro Globos de Ouro disse certa vez que ao despertar de manhã para as filmagens sentia que não podia fazer seu trabalho, que era uma fraude. A cantora Jennifer López também declarou que apesar de ter vendido 70 milhões de discos não se sentia boa o suficiente no que fazia. Não se enganem, esse sentimento de inferioridade não acomete apenas mulheres famosas, ele é mais comum do que podemos imaginar. E apesar das mulheres serem as mais afetadas, outros grupos, considerados disruptivos, também sofrem com isso.
O nome dado a esse tipo de sentimento constante é “síndrome da impostora” e pode ser definido como a falta de autoestima para desempenhar uma função em espaços masculinos, o que leva à necessidade de trabalhar mais e melhor para alcançar e ter direito ao reconhecimento.
Esse fenômeno não deve ser encarado como uma questão individual e sim, como reflexo de um problema social. A socialização diferenciada entre homens e mulheres cria as condições que ajudam a explicar por que elas sofrem de forma maciça a síndrome da impostora”. Com isso, tentarão compensar aquilo que acreditam ser falta de capacidade com maior esforço e horas de trabalho. Quando concluem o projeto e os resultados aparecem, tendem a explicá-los pelo esforço e não pela capacidade.
A “síndrome da impostora” não é algo que surge da noite para o dia e sim de uma série de condicionantes existentes em todo o processo de socialização de meninas e mulheres, sobretudo.
A campanha da ONU Mulheres lançada em 2017 com o título: onde está Wally?, questionava sobre a ausência das mulheres na Ciência. Mesmo existindo pesquisas quantitativas que demonstram que garotas concluem o Ensino Médio com notas mais altas que os garotos em matemática e ciências, são eles maciçamente, que se dedicam a estudar Engenharias e carreiras técnicas. Enquanto as meninas, são direcionadas para trabalhos relacionados ao cuidado (professoras, obstetras, enfermeiras, pediatras, babás, etc.).
Somos ensinadas que as habilidades femininas não têm tanta importância como as masculinas e a “síndrome da impostora” tem a ver com a ideia de que o homem faz tudo melhor. A pesquisadora Carol Herrera sinaliza para estudos que apontam que meninas a partir dos 5 e 6 anos, já têm a sensação de pertencer a um grupo inferior. A escola pode e deve ser um lugar para potencializar capacidades das crianças, inclusive das nossas meninas, mas ela ainda é o espaço do reforço da falta de autoestima e confiança, gerando consequências devastadoras durante a vida dessas garotas.[1]
A “síndrome da impostora” não é um problema de cada mulher. Ela está relacionada aos estereótipos de gênero, mas apesar disso, é preciso levar em conta que as consequências afetam o plano individual, podendo causar inúmeros problemas físicos ou psicológicos.
Veja como um modelo de sociedade, estruturado na desigualdade entre os gêneros, afeta de forma devastadora a vida de milhares de pessoas. As mulheres têm ultrapassado os limites impostos a elas historicamente, mesmo em condições desfavoráveis e, mesmo assim, para muitas de nós, resta um sentimento que incomoda, que traz desassossego, dúvidas e que cria obstáculos para que celebremos, verdadeiramente, nossas conquistas. Precisamos nos livrar dele!
[1] Discussão realizada por Isabel Mastrodomenico – Cientista Social e Diretora da Agencia Comunicación y Género.
Nilza Anido Lira
Publicado em 21:28h, 25 fevereiroUm tema inquietante mas pertinente que nos leva a refletir e constatar que apesar dos avanços obtidos nas questões de gênero. ainda estamos aquém do desejável para diminuir as desigualdades.