Até quando o assédio será tratado como piada?
Mais uma vez, um caso de assédio sexual e moral contra a mulher é divulgado pela mídia. Parece a cena repetida de um filme antigo, um homem ocupando um cargo de poder, se sente bastante confortável em assediar, violentar, coagir e constranger mulheres que estão sob o seu comando.
O poder conferido aos homens que ocupam cargos de chefia parece blindá-los de qualquer tipo de punição. Este poder conferido a eles e todo o machismo que trazem consigo os encoraja a vilipendiar mulheres, a tratá-las com desrespeito e objetificá-las.
O caso mais recente, envolvendo o diretor, ator e roteirista Marcius Melhem e a atriz Dani Calabresa revela, mais uma vez, que as mulheres estão vulneráveis em todos os lugares. Longe de ser um caso esporádico – só para lembrar um evento próximo, em 2017 o ator José Mayer foi acusado de assédio por uma figurinista da rede globo -, essas situações sinalizam para a necessidade de combater esse tipo de crime tão comum e que acomete, sobretudo, as mulheres.
Nós somos as maiores vítimas de assédio sexual, apontam as pesquisas, esse é um problema estrutural onde se observa padrões de repetições. O abusador/assediador se aproveita da sua posição de poder para forçar um tipo de situação, não encara isso como um abuso e sim como uma brincadeira, culpa da mulher ou nas melhor das hipóteses um erro.
Os relatos sobre o caso, divulgados pela revista Piaúi[1], mostram que após tentar beijar à força a atriz, encurralando-a no corredor próximo ao banheiro de um bar e de tirar seu pênis e encostar nela, Marcius Melhem haveria se “justificado” dias depois, afirmando que o ocorrido teria sido uma brincadeira, motivada pelo fato da atriz estar muito “gostosa”. Um argumento muito utilizado por homens que cometem assédio para culpar a vítima e deixá-la confusa. Será que eu entendi errado e tudo não passou de uma brincadeira?
Com toda a publicidade do caso, o ator e diretor escreveu na sua conta do twitter que estava disposto a reconhecer seus erros e que jamais faria algo contra a vontade de alguém. Por que o agressor fala em reconhecer o erro? Tentar beijar uma mulher à força não é erro, é crime. Se esfregar em uma mulher enquanto ela está encurralada não é um erro, é crime. Mas, aquele que comete o ato não considera desta forma, porque não considera a mulher um sujeito e sim um objeto, um pedaço de carne, algo que pode ser submetido por ele quando bem desejar.
Em casos como este, é comum tentar desacreditar a vítima perante a opinião pública, fato esse que leva muitas mulheres, vítimas de assédio a não denunciarem ou a demorar a apresentar uma denúncia contra o agressor. A postura da empresa, aqui no caso apresentado, a Rede Globo, também é ponto de crítica e corrobora o receio de muitas mulheres que passam por essa experiência traumática. O silenciamento da emissora sobre o assédio cometido, a demissão do acusado sem que o fato tenha sido mencionado, revela uma postura pouco efetiva no combate a este tipo de prática.
O assédio, que infelizmente é muito comum no mundo do trabalho, para ser combatido necessita de uma abordagem complexa que envolve a escuta solidária das vítimas, políticas de combate a esta prática nas empresas, punição do agressor e sua participação em grupos reflexivos para tratar a masculinidade tóxica. Muitas empresas acreditam que basta afastar o assediador, mas isso não acaba com o assédio, é preciso tratar a causa dele e isso só é possível quando deixarmos de tratá-lo como piada ou como coisa de menor importância.
[1] Reportagem disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br.
Ainda não há comentários, seja o primeiro