Da gripe espanhola ao coronavírus: O que a história nos mostra
Da gripe espanhola ao coronavírus: O que a história nos mostra
A morte de um morador do Morro da Providência, de 48 anos, é, possivelmente, mais um capítulo da história da pandemia da COVID-19 no Brasil. José do Nascimento Félix era chef de cozinha e morava sozinho na Providência. Depois de passar cinco dias internados com suspeita de coronavírus, ele recebeu alta e morreu em casa, no domingo dia 12/04/2020, sem ter a confirmação da doença. O corpo só foi retirado 24 horas depois do falecimento.
No norte do Brasil, no Amazonas, corpos de infectados pela COVID-19 dividem espaço com os pacientes internados com o novo coronavírus. Em outras regiões do país, hospitais estão alugando câmaras frigoríficas para auxiliar na remoção e conservação dos corpos, caso haja necessidade.
Cenas com essas parecem transportadas dos livros de história que relatavam uma outra pandemia que chegou ao Brasil em 1918, a gripe espanhola, que veio abordo do navio Demerara, procedente da Europa. Um mês depois do transatlântico aportar, o país via os casos da gripe se alastrar por todo o território. Faltavam médicos, leitos nos hospitais, covas e coveiros (esses, inclusive, eram recrutados pela polícia dada a necessidade de sepultamentos), sobravam corpos que se amontoavam nas ruas ou em vales comuns, deixando um ar fétido nas cidades. No Brasil, estima-se que a gripe tenha matado ao menos 35 mil pessoas, entre elas, o então presidente eleito Rodrigues Alves, quando iniciaria o seu segundo mandato.
Considerando as diferenças entre esses dois eventos, eles escancaram uma deficiência grave no Brasil, a desigualdade social. Apesar de afetar a todos, os mais pobres estão hoje, como estavam em 1918, em situação de maior vulnerabilidade. O caso narrado no início do texto é recheado de simbolismo para essa reflexão. O morro da providência é a primeira favela do Rio de Janeiro formada por ex-combatentes de Canudos e pelos negros libertos.
O Estado brasileiro, historicamente, negligenciou esses territórios que foram ocupados por pessoas muito pobres. Ali, sem nenhum tipo de planejamento e nem infraestrutura, foram erguidas casas pequenas e barracos colados uns aos outros. Dentre tantos outros problemas a aglomeração de pessoas, a falta de abastecimento de água e tratamento de esgoto, colocam essa população como a mais vulneráveis ao contágio do novo coronavírus. Sem acesso a atendimento adequado e sem testes para todos, o corrido com o senhor José Nascimento Félix pode ser tonar cada vez mais comum, infelizmente….
Ainda não há comentários, seja o primeiro