Não! Não podemos aguentar mais um pouquinho
Recentemente o caso de uma menininha de 11 anos, vítima de violência sexual e grávida do estuprador chamou a atenção da opinião pública. Assistimos estarrecidos os contornos que essa triste história tomou.
A história é terrível, mas infelizmente não é um caso isolado. Diariamente meninas são abusadas sexualmente dentro de suas próprias casas. Pesquisas revelam que o estupro é regra no Brasil, 4 meninas de até 13 anos são estupradas por hora na nossa sociedade.
A vítima do caso em questão, uma menina que no momento do estupro não tinha completado 11 anos, foi impedida pela juíza Ana Zimmer de realizar o procedimento de aborto legal.
A abordagem da magistrada foi uma sessão de tortura para uma criança que havia vivenciado um episódio horrível e violento. As perguntas feitas pela juíza e a decisão de enviar a menina para um abrigo, para que ela pensasse melhor sobre o aborto, foi uma forma de punição para quem precisava de apoio, empatia e acolhimento.
Após o caso ter repercutido a justiça tomou a decisão de permitir o aborto legal para a menina e o seu retorno ao lar. Em um país onde 66 mil estupros acontecem por ano, 180 por dia, continuamos a tratar o aborto como tabu e a culpabilizar mulheres e meninas que são vítimas da violência sexual.
Dias após esse caso, a atriz Klara Castanho veio a público revelar que foi vítima de estupro, descobriu a gravidez tardiamente e decidiu dar a criança para a adoção. Após todo esse trauma, Klara precisou publicizar sua história porque uma enfermeira a ameaçou de “vazar” a notícia para um colunista.
A decisão tomada pela atriz também foi fruto de inúmeros julgamentos moralistas, o que revela que quando uma mulher sofre uma violência sexual outras tantas violências são cometidas em seguida.
O que presenciamos no Brasil é uma sucessão de golpes ao direito ao aborto já garantido legalmente em casos de anencefalia, risco à vida materna e violência sexual. Também tem se tornado cada vez mais comum o uso da objeção de consciência por profissionais de saúde. Assim como aumenta o número de casos judicializados. Enquanto isso, o governo trabalha sistematicamente para retroceder a legislação já limitada quanto aos direitos sexuais e reprodutivos.
Até quando iremos aceitar que meninas e mulheres vítimas de violência sexual sejam perseguidas? Não! Não podemos aguentar mais um pouquinho! Negar o aborto é fazer uso de uma ferramenta patriarcal que serve, unicamente, ao próposito de controlar os corpos femininos. Contra isso, devemos mobilizar uma política feminista para que a sociedade não seja permissa com o estupro, com a misoginia e com a violência.
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