O Brasil de Guedes e a Realidade das Empregadas Domésticas
Na última quarta-feira (12/02/2020) o dólar bateu novo recorde e chegou a R$ 4,35. Na ocasião o ministro da economia, Paulo Guedes, disse que na época do cambio barato até as empregadas domésticas viajam para Disneylândia, acompanhadas de outros indivíduos das classes mais baixas, nos dizeres do ministro. Algo que ele chegou a classificar como farra.
Pois bem, o discurso do ministro revela duas percepções bastantes significativas sobre o Brasil. Primeiro, explicita o discurso classista que enxerga com espanto a possibilidade de ascensão ou de melhoria de condições de vida de indivíduo que pertencem originalmente a classes menos privilegiadas. Esse discurso tem como marca fundamental a não aceitação da ampliação de direitos e a negação de oportunidades iguais para todos. Como exemplo, basta lembrarmos do contexto de discussão e de aprovação da PEC das domésticas em 2013. Naquele momento, inúmeros discursos com viés classista foram operados para desmerecer, deslegitimar a ampliação de direitos dos empregados domésticos.
Segundo, a fala do senhor Paulo Guedes mostra como muitos não conhecem, ou fingem não conhecer, a realidade brasileira. A primeira década do século 21 foi marcada por uma expansão da classe média no Brasil. De acordo com o Ipea, foi a primeira vez, na história brasileira, que o número de mulheres empregadas no comércio se aproximou do número das empregadas domésticas. Este fluxo de trabalhadores domésticos para outros tipos de trabalhos ilustra o crescimento da classe C – que, segundo dados levantados pelo grupo BNP Paribas em conjunto com a Ipsos Public Affairs, cresceu de 62,7 para 103 milhões de pessoas, entre 2005 e 2011.
No entanto, os profissionais que continuaram ganhando até um salário mínimo, caso das empregadas domésticas, ficaram de fora. De acordo com economistas, este grupo, não foi beneficiado pelo “boom” da nova Classe C. Este grupo não estava representado na expansão do mercado turístico brasileiro, quando milhares de pessoas viajaram de avião pela primeira vez — principalmente para destinos dentro do Brasil.
Ao contrário, este grupo estava lutando para ter sua profissão reconhecida e respeitada. Limpando os apartamentos e cuidando das crianças das famílias abastadas enquanto eram sujeitas às rotinas pesadas que ultrapassavam a carga horária definida por lei, sem receber hora-extra, para citar alguns dos pontos da realidade dessas trabalhadoras.
Em um país em que a noção de direito foi, desde sua formação, compreendida como privilégio, um discurso como esse só reafirma a negligencia história do Estado, das lideranças políticas e das classes privilegiadas com aqueles que, com o suor dos seus rostos, fazem girar a roda da economia.
Nilza
Publicado em 19:31h, 13 fevereiroMais um artigo pertinente e contextualizado.
Parabéns Dra. Marusa!