O Machismo nosso de todo dia: Galo Doido x Bolsonaro
O Machismo nosso de todo dia: Galo Doido x Bolsonaro
Mais uma vez fomos solapados por episódios machistas que se fazem, ainda, muito presente na nossa sociedade. O conjunto de eventos preconceituosos teve início no domingo, dia 16 de fevereiro, durante o jogo entre Atlético Mineiro e Caldense. No intervalo da partida houve a apresentação do time feminino e o mascote do clube, pediu a atleta Vitória Calhau que desse uma “voltinha” e a cena foi completada com o mesmo indivíduo esfregando as mãos levando-a até a boca. Numa atitude claramente machista. O clube se posicionou, afastou o funcionário e afirmou, em nota, não tolerar atitudes como essa.
Esse tipo de comportamento, objetifica a mulher que está ali, naquele momento para ser apresentada como uma atleta e não como um objeto sexual, desejado e pronto para ser “consumido”. Mas, é a naturalização desse tipo de conduta que torna tudo isso ainda mais cruel. Esse processo é tão eficientemente internalizado, pelo aparato cultural, que até mesmo a vítima encontra dificuldade para compreender o ato como uma violência e um preconceito. Em declaração, após o ocorrido, Vitória afirmou que na hora não percebeu que se tratava de ato machista e que foi preciso assistir ao vídeo algumas vezes para que pudesse compreender o que havia acontecido.
Para muitos, esse pode ser um sinal de que existe uma tentativa de “forçar a barra” ao relacionar um ato “comum” (pois acontece a todo momento e em vários lugares) a um episódio machista. Entretanto, é preciso compreender que o processo de reprodução dos hábitos se faz com força e intensidade a ponto de a vítima não reconhecer um ato de abuso. Assim como nos ensina Bourdieu, é o dominado que “legitima” a ação do dominador, quando a reproduz, quando não a reconhece e quando a naturaliza.
Ora, fomos “ensinadas” para entender atitudes desse tipo como algo positivo, como elogio e que devíamos, minimamente, nos sentir lisonjeadas por sermos desejadas. Isso reforça a naturalização e a dificuldade de olharmos um ato como esse, estranhá-lo e reconhece-lo como preconceituoso.
Como se não bastasse o episódio de domingo, fomos surpreendidos, na terça-feira (18/02/2020) com outro episódio machista e misógino, agora envolvendo o presidente da República Sr. Jair Bolsonaro que fez declarações com teor sexual à repórter Patrícia Campos Melo do jornal A Folha de São Paulo. Em entrevista no Palácio da Alvorada, Bolsonaro explorou uma informação dada por um depoente à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fakes News, afirmando que a jornalista: “queria dar o furo a qualquer preço contra mim”. Na linguagem jornalística “dar o furo” significa dar uma notícia em primeira mão. Na ocasião, o presidente se referia ao depoimento de Hans River na CPMI, ex-funcionário da empresa de marketing digital Yacows durante a campanha eleitoral de 2018, o depoente afirmou que a jornalista Patrícia procurava “um determinado tipo de matéria a troco de sexo”. Apesar de não ter apresentado nenhuma prova que corroborasse a afirmação.
A declaração do presidente, recheada de ironia, fazia relação entre o furo de reportagem e uma conotação meramente sexual. Não é incomum, a utilização de argumentos de cunho sexual para desacreditar as mulheres. Declarações como essa, colocam em dúvida a credibilidade das mulheres, deslegitimando suas falas e posicionamentos. É como se não devessem ser levadas a sério.
É fato que em pleno século XXI não se espera que esse tipo de comportamento permaneça, menos ainda quando se trata do presidente de um país. Infelizmente, esses acontecimentos só reforçam o quanto o preconceito é enraizado na sociedade e servem, também, para demonstrar que ainda há muito que caminhar para alcançarmos uma realidade mais justa e menos preconceituosa.
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