Os obstáculos do empreendedorismo feminino
Os obstáculos do empreendedorismo feminino
O advento do capitalismo e da lógica neoliberal direcionou o mundo do trabalho para uma nova configuração. Esse movimento mundial incentivou o fechamento de postos de trabalho considerados formais e em contrapartida as novas tecnologias se apresentam como possibilidade de alcance de maior produtividade. Neste contexto, os direitos trabalhistas são flexibilizados em nome do desenvolvimento e o empreendedorismo se torna palavra-chave, sinônimo de inovação.
Chama atenção o crescente número de mulheres empreendendo, desbravando as dinâmicas do mundo empresarial e encontrando, nesse cenário, uma oportunidade para sustentar a família e/ou conciliar os trabalhos de cuidado com o trabalho remunerado.
Inúmeras pesquisas demonstram que as mulheres lideram cada vez mais empreendimentos no Brasil. De acordo com o levantamento feito pelo GEM (Monitoramento Global de Empreendedorismo), com dados de 2018, o Brasil tem a 7 maior proporção de mulheres entre os empreendedores iniciais.[1] A mesma pesquisa sinaliza que o empreendedorismo por necessidade é maior no grupo de mulheres. Apenas 37% investiram em um negócio para aproveitar oportunidades do mercado.
O cenário acima permite algumas reflexões. Antes disso, se faz necessário pontuar o interesse de abordarmos a situação das mulheres mais pobres. Uma perspectiva mais ampla, revela que o advento do capitalismo e dos grandes empreendimentos industriais, trouxe oportunidades de emprego para uma massa operária, no entanto excluiu historicamente as mulheres, que ficaram restritas às tarefas domésticas, uma tendência que sofreu inflexões com lutas e movimentos sociais, como o movimento feminista.
A partir da década de 1980, houve o que muitos pesquisadores[2] denominam de feminização do trabalho. Os novos padrões de consumo e a flexibilização dos processos de trabalho, permitiram o aproveitamento da mão de obra feminina pelo capital. Entretanto, essa flexibilização aumentou a informalidade e a consequente precarização do trabalho desenvolvido pelas mulheres. Assim, como pontua Kergoat[3], quando postos de trabalho se tornam feminizados observa-se a tendência de sua desvalorização. Se por um lado houve aumento das mulheres na esfera produtiva, por outro lado essa inserção foi marcada pela precariedade.
A precarização, que é a marca da inserção das mulheres no mercado de trabalho, aliada às crises econômicas e a flexibilização dos direitos, colocam as mulheres, de modo muito particular, as negras e periféricas, em situação de vulnerabilidade social.
Esta situação leva muitas delas ao empreendedorismo, criando pequenos negócios na maior parte dos casos por necessidade de sobrevivência. Mas, continuam sem os aportes necessários para o desenvolvimento de seus negócios, buscando equilibrar as tarefas domésticas e a gestão da sua atividade empreendedora.
Apesar de algumas iniciativas do poder público para fomentar esse tipo de empreendedorismo (como linhas de créditos para as mulheres, mentorias e treinamentos), o que a maioria necessita, sobretudo quando nos referimos as mais pobres, é da socialização dos trabalhos de cuidados, como creches, escolas públicas em tempo integral, lavanderias coletivas, etc., pois de outro modo, empreender, para boa parte delas, será viver a precarização e não a experiência de um trabalho decente.
[1] Empreendedores iniciais são indivíduos que estão à frente de empreendimentos com menos de 42 anos de existência.
[2] Destaca-se Nancy Fraser no texto: FRASER, Nancy. Reframing Justice in a globalizing world. In: New Left Review, London, n. 36, p. 69-88, 2005.
[3] KERGOAT, D. “Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo”. In: H. Hirata (org.). Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Unesp, 2009.
Leandro
Publicado em 19:02h, 26 novembroÓtimo…. As mulheres não é de hoje que estão vindo com tudo