Por que a masturbação feminina continua um tabu?
A socialização das meninas e mulheres é responsável por não colocarmos a sexualidade como um tema central em nossas vidas. Desde a adolescência somos ensinadas a silenciar desejos e desencorajadas a conhecer nosso corpo.
Para os meninos o processo se dá de forma contrária. Ainda adolescentes eles conversam com os amigos sobre sexo e sobre masturbação. Para as meninas isso permanece um tabu, inclusive durante a vida adulta.
Se dermos um “google” veremos que o tema masturbação feminina na internet, está quase sempre relacionado a pornografia. Enquanto isso, as buscas relacionadas à prática masculina tendem a ser mais informativas.
Os poucos estudos sobre a temática apontam para o seguinte resultado: as mulheres não se masturbam tanto como os homens. Corroborando essa conclusão, o relatório da educadora sexual americana Debby Herbenick aponta que 44% dos homens ouvidos para o estudo, afirmaram praticar a masturbação de duas a três vezes na semana. Entre as mulheres a proporção é de apenas 13%. Um outro estudo, espanhol e realizado em 2009, indicou que era muito maior a parcela de homens que dizia ter se masturbado no mês anterior à pesquisa do que a de mulheres (46,9% para eles e 4% para elas).
Esses resultados sinalizam para a forma diferente como homens e mulheres encaram a masturbação. No entanto, estudiosos do tema são cuidadosos ao afirmar que esses dados não são 100% confiáveis. Isso porque, quando se trata de sexualidade, um assunto tão íntimo, as pessoas não são totalmente honestas.
De todo modo, a masturbação feminina ainda é um assunto pendente. Por mais que tenhamos avançado no que tange os direitos sexuais, ainda há uma visão machista sobre o prazer feminino.
Normas culturais e religiosas que moldaram a nossa sociedade, impedem que as mulheres desfrutem verdadeiramente de sua sexualidade. Como resultado, a educação sexual que as mulheres recebem é pobre ou limitada em comparação com a recebida pelos homens.
Ainda que a Bíblia não cite a masturbação, lideranças religiosas a trataram como assunto proibido. Durante a idade Média, lançou-se mão de textos religiosos ou pseudomédicos que se referiam a existência de uma doença pós-masturbatória, prejudicial especialmente às mulheres. Em 1760, um neurologista francês chamado Samuel Tissot escreveu: “Por terem o sistema mais fraco e com uma maior inclinação natural por espasmos os problemas são mais violentos”.
Como pode ser percebido neste breve apanhado histórico, masturbação feminina e proibição são termos que caminham lado a lado . Na contemporaneidade, a abordagem sobre o tema vem ganhando mais espaço, as mulheres têm se interessado e falado mais sobre sexualidade.
Sob o lema “para o mau humor, faça amor consigo mesmo”, a prefeitura de Medelín fez essa recomendação em uma peça publicitária onde aparecia a imagem de uma mulher se masturbando, o que causou polêmica na Colômbia. Centenas de pessoas reagiram a favor e contra a recomendação.
O secretário da Juventude de Medelín, Santiago Bedoya, explicou que o objetivo das peças é “reconhecer” a masturbação como “uma prática humana natural, evolutiva, histórica” e “normal”, “porque muitos jovens sofrem penalização e moralização” a respeito do assunto.
A decisão por estampar nas peças publicitárias a imagem de uma mulher se masturbando foi, de acordo com responsável pela campanha, chamar atenção para o fato de que essa prática é tida como proibida para as mulheres. Por outro lado, erra ao associar o mau humor das mulheres a falta de relações sexuais.
De todo modo, o assunto está em pauta e que bom que podemos falar sobre isso. Afinal, fazer sexo é natural. Então, por que falar disso, para as mulheres, ainda não é?
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