Com o intuito de responder à pergunta apresentada no título desse texto, a OXFAM Brasil, uma organização da sociedade civil brasileira, criada em 2014, apresentou no Fórum Mundial Econômico em Davos – edição 2020, um relatório munido de um estudo apurado para demonstrar o tamanho da desigualdade econômica no mundo e a necessidade dos governos de olhar para quem realiza o trabalho de cuidar.[1]
Como trabalho de cuidado compreende-se toda atividade realizada, majoritariamente por mulheres, que limpam, lavam, cozinham e cuidam de crianças, idosos ou doentes, sendo essa atividade remunerada ou não.
De acordo com o relatório e na contramão do trabalho de cuidados, os bilionários do mundo, em 2019, somavam 2.153 indivíduos detendo em suas mãos mais riquezas do que 4,6 bilhões de pessoas. Esses números demonstram o tamanho abissal da desigualdade. Segundo o estudo, o fosso dessa desigualdade baseia-se em um sistema econômico sexista e falho que valoriza a riqueza de um pequeno grupo de privilegiados em detrimento do trabalho não remunerado e/ou mal pago de bilhões de horas dedicadas ao trabalho essencial de cuidados.
A constatação do estudo apresentado pela OXFAM já se configurou em objeto de análise de autoras consagradas como Nancy Fraser e Silvia Federici, que defendem a tese de que o sistema econômico atual produz e se alimenta de desigualdades e nesse sentido as mulheres são as que mais sofrem, uma vez que se configuram na parcela mais pobre da sociedade. Como ilustração podemos citar que, de acordo com a OXFAM, os 22 homens mais ricos do mundo detêm em suas mãos mais riquezas que todas as mulheres que vivem na África.
O mais intrigante nessa situação é que os dados apresentados pelo relatório desmontam toda uma construção social que, percebe historicamente, o trabalho de cuidado como sem valor. Mesmo quando esse trabalho é realizado em troca de salário, ainda sim, é concebido como sem valor por acreditar que não produz mercadoria.
O que não se percebe e que é denunciado por estudiosos da área é que o trabalho de cuidado é essencial para o bem-estar da sociedade e também para o funcionamento da economia. E sim, ele produz valor! O valor monetário global do trabalho de cuidado realizado sem remuneração por mulheres a partir da faixa etária de 15 anos é de US$ 10,8 trilhões por ano, três vezes maior que o valor estimado para todo o setor de tecnologia do mundo.[2]
Fica claro, com esse levantamento que, o trabalho de cuidado, historicamente invisibilizado e desvalorizado é parte importante para o funcionamento da sociedade e da economia. Dessa forma, deve merecer maior atenção dos governos para que uma economia mais humana e feminista seja construída. Valorizando assim o que de fato importa para a sociedade e não promovendo uma busca insaciável pela riqueza e pelo lucro. O investimento em sistemas nacionais de cuidado permitirá equacionar a responsabilidade desigual assumida por mulheres e meninas ao redor do mundo, bem como, legislar em favor de quem cuida são importantes e possíveis passos para que a mudança aconteça.
[1] Disponível em: http.: www.oxfam.org.br. Acessado em 28/01/2020.
[2] Dados disponíveis em: http.: www.oxfam.org.br.
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