Uma sofrência empoderada
Na última sexta-feita, dia 05 de novembro, o Brasil assistiu atônito as notícias da queda do avião que transportava a cantora Marília Mendonça e mais 4 pessoas, incluindo o piloto e o co-piloto. Diante do desencontro de informações, comuns a episódios como esses, um sopro de esperança veio da declaração feita pela equipe da cantora de que todos os passageiros haviam sido resgatados com vida. Mas, com as equipes de TV chegando ao local, durante o trabalho dos bombeiros, o Brasil recebeu incrédulo a notícia de que “Rainha da Sofrência”, como era conhecida Marília havia sido vítima fatal do acidente, assim como todos os que estavam no avião, um tio da artista que era também seu assessor, seu produtor, o piloto da aeronave e o co-piloto.
Nessa terra de um povo sofrido, que nos últimos anos têm perdido tanto e tanta gente como consequência da pandemia, a perda trágica de uma artista no auge de sua carreira e com apenas 26 anos parece reabrir todas as feridas que insistentemente teimamos em cicatrizar.
Desse trágico dia 05/11 até hoje muito já se disse e já se escreveu sobre Marília Mendonça. Menina que, desde muito cedo, demonstrou talento para a composição e uma personalidade forte. Sentou-se à mesa para negociar suas músicas e foi gravada por artistas famosos do sertanejo. Se lançou na carreira de cantora com apenas 20 anos, acumulando marcas e números extraordinários.
O movimento musical inaugurado por Marília, o feminejo, revelou tantas outras mulheres potentes, ocupando espaço na música sertaneja, que até então era dominada por homens. O que assistimos a partir do lançamento do hit infiel, faixa de seu primeiro álbum apresentado ao público em 2016, foram histórias de mulheres, pelo ponto de vista feminino, sendo cantadas na voz da Rainha da Sofrência.
Suas letras falavam sobre situações cotidianas e até banais que todas nós vivenciamos, como bebedeira com as amigas. Histórias repletas de experiências femininas. Antes de Marília, o sertanejo já trazia esses temas, mas sempre pela ótica do homem, abandonado, que bebe para esquecer ou o mulherengo. Marília Mendonça cantava para e sobre nós.
Empoderamento, sororidade, empatia, são alguns dos sentimentos que a Rainha da Sofrência despertou e propagou em nós. Como ela própria disse em ocasião do lançamento do projeto “As patroas” junto com a dupla Maiara e Maraísa “você pode estar ao lado de uma mulher, ou abaixo, acima de uma mulher, e mesmo assim você estar junto com ela o tempo todo”. É sobre isso!
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