Você sabe o que é body shaming?
Body shaming é uma expressão em inglês que significa “vergonha do corpo” e vem sendo muito utilizada nas redes sociais, com o objetivo de atacar mulheres, sobretudo famosas, que postam fotos dos seus corpos reais. Assim, qualquer gordurinha ou celulite que seja visível se torna motivo para ataques desrespeitosos, covardes e cruéis nas redes sociais. O objetivo dessa prática é fazer com que a pessoa atacada sinta vergonha do seu corpo.
A vítima mais recente do bory shaming foi a estrela cubana Camila Cabelo. A cantora se deparou com fotos suas que viralizaram nas redes sociais. As fotos foram tiradas enquanto Camila estava em uma praia com o namorado e, nelas, o que se vê é uma mulher real, sem o abdômen trincado e com algumas celulites. Bastou isso para que as ofensas começassem. Nesse caso, em específico, a cantora contou com o carinho e a solidariedade de muitas pessoas, mas mesmo assim não apaga a violência dos ataques.
O corpo feminino é compreendido como um “bem público”, pertence a todos, menos a mulher. Esse corpo é alvo de comentários a todo o momento, seja porque é considerado magro demais, ou gordo demais, e também musculoso demais ou até flácido demais. Quem legisla sobre ele é o outro (Estado) que opera por uma lógica masculina. Quem impõe os padrões de beleza e de estética é a sociedade (a partir do olhar do homem). O corpo deve ser “perfeito”, consumível, objeto sexualizado, que pertence a todos, menos à mulher. E, nessa dinâmica, mulheres famosas ou anônimas, se tornam vítimas de cobranças inalcançáveis que destroem a autoestima de muitas delas.
Nesse modelo patologizante de sociedade, nós mulheres, nos tornamos produto de consumo e permitimos isso, de certa forma, quando não fazemos a crítica aos padrões estabelecidos. E além disso, em muitos casos, alimentamos esse ciclo quando, por exemplo, postamos fotos do nosso corpo, não o real, mas o irreal concorrendo, enlouquecidamente por curtidas, nos tornando assim, vítimas de nossas próprias atitudes.
Em um mundo onde tudo se passa no virtual, existem inúmeros artifícios tecnológicos para esconder ou disfarçar o que, para muitos, pode parecer um defeito, o que leva a muitos problemas. Primeiro porque essas imagens passam a mensagem de que sim, existem mulheres “perfeitas”, com “corpos perfeitos” e, segundo, a frustração e a infelicidade que muitas sentem por não conseguirem alcançar a dita perfeição.
Uma das consequências do body shaming é a constante insatisfação com o corpo e o desejo de modificá-lo considerando a opinião dos outros. Mas, é preciso sinalizar que apesar do termo parecer novo, a prática de estabelecer e definir padrões de beleza para as mulheres é muito antiga. Naomi Woolf, no livro “O Mito da Beleza”, afirma que a beleza é entendida como uma qualidade fundamental e que estimula a competição entre as mulheres. Na verdade, como vai defender a autora, isso é uma ficção bem elaborada para controlar mulheres na sociedade patriarcal.
Apesar das várias conquistas feministas, no que tange aos direitos e oportunidades, por que ainda permanece e persiste o mito da beleza? Talvez, seja mesmo uma resposta aos avanços dos movimentos feministas. Afinal, atribuir valor às mulheres a partir do corpo serve a dois propósitos. Primeiro, o projeto do mercado, quanto mais mulheres desgostam de seus corpos, mais estarão propensas a pagar por tratamentos estéticos e produtos de beleza que fazem promessas falaciosas. O segundo propósito é político, enfraquecer as mulheres na representação política, controlar nossas posições e relações no mercado de trabalho. O mito da beleza atua sobretudo no comportamento.
Na medida em que nos damos conta do que somos, do que produzimos, tendemos a perceber que somos mais que um corpo. É preciso olhar para o que fazemos, para o que conquistamos e lançar um olhar crítico às mensagens que nos induz a pensar que a felicidade está em se encaixar nos padrões de beleza estabelecidos. Até quando vamos permitir que ideias de beleza definam nosso valor?
Angélica Lira
Publicado em 10:42h, 01 julhoComo sempre um texto excelente, Marusa.
Marusa Silva
Publicado em 10:50h, 19 agostoObrigada!!