8 de Março – um convite à reflexão - Generalizando
540
post-template-default,single,single-post,postid-540,single-format-standard,bridge-core-2.0.9,ajax_fade,page_not_loaded,,qode-title-hidden,qode_grid_1300,qode-theme-ver-19.6,qode-theme-bridge,disabled_footer_top,wpb-js-composer js-comp-ver-6.1,vc_responsive

8 de Março – um convite à reflexão

8 de Março – um convite à reflexão

Novamente 8 de março e somos solapados por comerciais que exaltam a figura feminina, reportagens que denunciam a desigualdade de gênero no mercado de trabalho, na esfera política e no esporte e debates sobre a violência contra a mulher.

De fato, essa data nos convida à reflexão desde o evento que a consagrou e que é conhecido amplamente pelo público, o incêndio em uma fábrica têxtil, nos Estados Unidos em 1911, onde cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Apesar do 8 de março ter sido oficializado apenas em 1975 pela ONU, desde o início do século XX a data já era considerada simbólica, no que tange a luta pela igualdade de gênero. O triste episódio do incêndio chamou atenção para as condições precárias de trabalho das operárias, no entanto, esse problema já se apresentava como tema de discussão desde o século XIX. Manifestações promovidas pelos movimentos feminista, em vários países europeus, denunciavam a exploração e a desigualdade vivenciada pelas mulheres dentro das fábricas e em outras esferas sociais.

O tempo passou e podemos claramente enxergar, em boa parte das realidades sociais, avanços consideráveis relacionados à questão de gênero. Mulheres têm estudado mais, estão se qualificando, ocupando espaços de poder, elegendo e sendo eleitas, mas tudo isso é ainda muito incipiente. Existe um outro lado dessa realidade que insiste em nos lembrar como as relações de poder desenhadas pelo patriarcalismo ainda estão em voga. Esse outro lado insiste em nos evidenciar que as mulheres ainda são tratadas e percebidas pelos homens, pelo Estado e pela justiça como desiguais, como corpo e objeto.

Estruturas de poder como o patriarcado são responsáveis por, historicamente, encerrar as mulheres em espaços menos valorizados e também instituir obstáculos para sua autonomia. Exemplo disso é a desigualdade da divisão sexual das tarefas domésticas e de cuidados. De acordo como estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) precisaríamos de 200 anos para que houvesse igualdade entre homens e mulheres na partilha do trabalho doméstico. O problema se torna mais grave porque é justamente essa sobrecarga das tarefas domésticas que impedem, significativamente, a ascensão das mulheres em suas carreiras e sua participação mais efetiva nos espaços de discussão e poder. Colocando-as em situação de desvantagem e desigualdade.

Esse outro lado da realidade insiste em mostrar a face da violência, dura, cruel e banal que as mulheres sofrem por serem mulheres, por serem consideradas posse dos homens. Realidade que se apresenta em números: nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda.[1]

Segundo o Monitor da Violência, o Brasil teve 1.314 casos de feminicídio em 2019, o maior número já registrado desde que a lei que pune esse tipo de crime entrou em vigor em 2015. Esses números nos forçam a perguntar se há de fato lugar seguro para uma mulher na nossa sociedade. Por isso, o dia 8 de março deve ser uma data para reflexão. É preciso comemorar as pequenas e significativas vitórias e buscar forças para combater toda a sorte de desigualdade e de violência que ainda pairam sobre a existência das mulheres.

[1] Dados disponíveis em: http.: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47365503. Acessado em 03/03/2020.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

1 Comentário

Publicar um comentário