Por uma escola antirracista - Generalizando
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Por uma escola antirracista

Por uma escola antirracista

No próximo dia 15/10 comemora-se o dia do professor. Nesse dia é comum nos depararmos com inúmeras mensagens parabenizando os professores, sinalizando a importância desse profissional e relembrando memórias afetivas do tempo da escola. Se é lugar comum falar sobre todo processo de desvalorização sofrido pelos docentes, por outro lado, é importante marcar esse debate, sinalizando as insatisfações da classe ao mesmo tempo que se apresenta as principais reivindicações.

Todavia, no texto dessa semana, convido você a pensar a escola e sim, pensar o profissional da educação, sua agência e seu protagonismo dentro desse espaço que precisa ser de acolhimento, acima de tudo. Ouvimos o tempo todo que a escola é o espaço do desenvolvimento e da formação do cidadão. É na escola que nos damos conta que o mundo não se resume a nós, que precisamos aprender a compartilhar e a seguir regras. Mas, é também na escola que muitas crianças sentem a rejeição, o isolamento e a discriminação.

Com o passar do tempo algumas exigências foram sendo apresentadas para que a escola se tornasse, por essência, o lugar da diversidade e do pluralismo. Onde crianças das mais variadas classes, identidades e etnias convivam harmonicamente e sintam-se de fato integradas. A exigência vai no sentido de construirmos uma escola antirracista, uma educaçãos antirracista e uma prática pedagógica antirracista.

Para que essa exigência se cumpra, o papel do professor é demasiadamente importante. Claro que não depende única e exclusivamente do docente. A escola, a comunidade e o currículo precisam se adequar a essa temática. Mas, é a ação do professor, em sala de aula, no contato direto com os alunos, que pode alavancar essa transformação.

Crianças negras precisam ter acesso a referências positivas de sua identidade, precisam visualizar a representatividade, precisam se ver e se enxergar em seus professores, em heróis e heroínas, em intelectuais, políticos, etc. As histórias possuem uma função social. Elas podem capacitar e humanizar pessoas e povos, mas também podem destruir a dignidade de indivíduos. Desse modo, a escola e os educadores precisam pensar em formas de ampliar as possibilidades culturais e as narrativas acessíveis aos alunos.

Sabe-se que a partir da Lei n° 10.639/2003, ficou estabelecida a obrigatoriedade do ensino da cultura e da história afro-brasileira nas escolas do Brasil. De fato, a lei foi um importante avanço na luta contra o preconceito, a discriminação e o racismo. Ao ser sancionada, a citada lei atendeu aos anseios de movimentos sociais, como o Movimento Negro e demais pessoas que militam em favor de uma sociedade mais justa e igualitária.

Entretanto, muitas escolas ainda possuem rituais pedagógicos que reforçam o racismo. Inúmeros estudos revelavam que os alunos negros são os que mais evadem, sobretudo no Ensino Médio. Além de configurar a maioria da população que vive em situação de vulnerabilidade social, como aponta pesquisa realizada pelo IBGE (2019)[1]. É equivocado olhar esse cenário sem atravessá-lo pelo racismo, pois essa prática, ainda fortemente presente nas escolas, nas práticas e nos currículos, ajudam a explicar a desvantagem social em que se encontram milhões de crianças negras no nosso país.

Então, no dia do professor, para além das demandas por melhores salários e valorização, devemos pensar também em como podemos contribuir para a construção de uma escola antirracista. Como podemos, enquanto docentes, ressignificar os conteúdos ditos “clássicos” apresentados aos alunos. Sinalizando como é grave e perigoso compreender a história apenas por uma ótica. Por outro lado, se faz necessário ampliar as referências acessadas pelos discentes, incentivando abordagens antirracistas.

Não é possível pensar a educação sem o professor. Também não é possível desejar uma escola que contemple a diversidade sem o compromisso dos nossos professores. Ser professor é se comprometer, sempre. Feliz dia do mestre!

 

 

[1]  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A pesquisa citada revela que 75% das pessoas que vivem em situação de extrema pobreza no Brasil são negras e pardas. Disponível em: http. ://www.ibge.gov.br. Acesso em: 28/09/2021.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

1 Comentário
  • Avatar
    Nilza Anido Lira
    Publicado em 16:43h, 20 outubro Responder

    Parabéns pelo texto! Muito correto e oportuno! Certamente poderemos contribuir para a erradicação do racismo na Sociedsde em geral, mas, mormente nas escolas.

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