Os impactos da pandemia na igualdade de gênero
O periódico The Lancet, publicou nesta última quarta-feira (03/03), os resultados de um estudo que aponta para os efeitos severos da pandemia de COVID-19 sobre as mulheres.
De acordo com a pesquisa, as mulheres tiveram taxas mais altas de perda de emprego, 26% para elas e 20% para os homens. Além do desemprego, o abandono escolar esteve mais presente na vida das mulheres durante o período da pandemia. Para elas, a propensão de deixar os estudos era de 1,23 vezes mais comparada aos homens.
Ainda consta, no estudo publicado pelo citado periódico, o aumento significativo nos casos de violência doméstica e de gênero no período pandêmico. O que esses dados refletem? Uma relação intrínseca entre crises econômicas e sanitárias e os efeitos, a longo prazo, sobre os mais vulneráveis. Enfatizando também, a necessidade de intervenções objetivas no sentido de mitigar os efeitos dessas crises e/ou evitar o recuo nas conquistas por igualdade e dignidade, sobretudo a de gênero.
A pesquisa, que conta com dados de 193 países e que considerou o período de março de 2020 a setembro de 2021, demonstra que a desigualdade de gênero é afetada indiretamente pelos efeitos à saúde causados pela pandemia, além dos efeitos nas questões sociais e econômicas, de maneira sistemática. Torna-se claro com isso que a pandemia exacerbou as disparidades sociais, em vez de criar novas desigualdades.
Grupos étnicos minoritários, imigrantes e mulheres em situação de pobreza estão entre os mais severamente afetados pela pandemia. Uma vez que, são esses indivíduos que ocupam, em sua maioria, os postos menos valorizados e o trabalho precário. Além disso, as normas sociais de gênero em muitos países atribuem responsabilidades domésticas e de cuidados aos filhos preferencialmente às mulheres. Com isso, seu tempo e sua capacidade de se envolver no trabalho remunerado ficam reduzidos. Em tempos de alta do desemprego, a dificuldade de se colocar no mercado de trabalho é ainda maior no caso dessas mulheres.
Esse estudo atual das condições de gênero no mundo pandêmico alerta, em primeiro lugar, para o aprofundamento das desigualdades em contexto de crise. Em segundo lugar, para a necessidade de intervenções rápidas que busquem evitar retrocesso de conquistas históricas.
Conquistamos a duras penas a igualdade de gênero, em alguns contextos esse debate está mais avançado do que em outros. Apesar disso, essa igualdade é constantemente solapada por medidas, comportamentos e políticas que são, claramente, contrárias a esse avanço.
A sociedade se encontra em um momento crucial onde o investimento no empoderamento de meninas e mulheres é extremamente necessário para garantir que o progresso em direção à igualdade de gênero não seja interrompido ou revertido. Precisamos estar alertas para que as consequências sociais e econômicas da pandemia não continuem na era pós-covid.
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