A Explosão do Feminismo - Generalizando
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A Explosão do Feminismo

A Explosão do Feminismo

O feminismo está na moda! Está presente nos debates universitários, na política, nos movimentos sociais e na internet. Em todos esses locais têm se debatido cada vez mais as vertentes do feminismo, bem como suas agendas. Dentre essas vertentes, destaca-se o feminismo interseccional que chama atenção para as variadas opressões que vinculam gênero, raça e classe social. Geralmente, o movimento feminista é estudado e apreendido por meio de ondas[1] e dentro dessa lógica estaríamos vivenciando a chamada 4 onda do movimento.

No Brasil, esse novo momento do movimento feminista pode ser apreendido a partir de três caracterísitcas principais, a saber: mobilização construída e divulgada na internet, a interseccionalidade e a atuação por meio de coletivos. Importante salientar que a expansão da internet permitiu que as variadas vertentes do feminismo fossem propagadas, chamando atenção para o racismo, para o machismo e para LGBTfobia, dando destaque para a  interseccionalidade que acampa todas essas lutas.

O ciberfeminismo, termo utilizado para se referir à mobilização feminista na internet, por meio de páginas, redes socias, sites e blogs, se multiplicou nos últimos 5 anos no Brasil. Se tornou espaço de divulgação das posições não hegemônicas da nossa sociedade. Permitiu um redimensionamento dos movimentos sociais, tanto nas suas formas de organização como de acessibilidade.

No entanto, antes que apressadamente, você imagine que esse movimento se resume ao espaço virtual, pontuo aqui sua potência. Ele se organiza, se expande, se divulga na internet, mas ultrapassa essa barreira e toma as ruas com vozes que reivindicam direitos iguais.

Vozerio, marchas e protestos tomaram as ruas, em 2015,  sinalizando para a ameaça de retrocesso que apresentava a aprovação do Projeto de Lei 5069/2013, apresentado por Eduardo Cunha, que dificultaria o acesso a vítima de estupro ao aborto legal e seguro. As manifestações que se espalharam por todo o país culminaram em ato nacional pelo “Fora, Cunha”, no dia 13 de novembro.

As fortes manifestações impressionaram. Ruas ocupadas por mulheres. As vozes femininas ecoando fortemente, quando nos acostumamos e naturalizamos a voz coletiva como masculina. Em 1983, Gayatri Spivak[2] colocava a seguinte questão: pode um subalterno falar? Nesse momento, as mulheres respondiam que sim, que tinham o direito de falar. A voz da rua era feminina.

Pouco dias após a manifestação que pedia “Fora Cunha”, foi organizado em Brasília, a Primeira Marcha das Mulheres Negras, que contou com 50 mil ativistas de todas as regiões do país. Mulheres jovens, quilombolas, cotistas, feministas, cristãs, lésbicas, militantes partidárias, mulheres trans, anarquistas, bissexuais, idosas, periféricas, trabalhadoras domésticas, representantes de povos originários, imigrantes, refugiadas, mães, etc. Todas juntas, chamando a atenção para as violações perpetradas contra nós. Antes disso, em agosto de 2015 a 5 Marcha das Margaridas, reuniu 70 mil mulheres em Brasília, reivindicando melhores condições para as trabalhadoras rurais.

Embora compreenda-se que foi a partir de 2015 que a 4 onda do feminismo alcançou maior amplitude, desde o início da década de 2010 ela já vinha mostrando sua força em manifestações públicas. Nesse ínterim, a Marcha das Vadias, criada em 2011, em Toronto, no Canadá, é um marco desse novo momento do feminismo. Sua criação está associada a um contexto onde depois de vários estupros que aconteceram na Universidade de York, um policial afirmou que as mulheres foram estupradas por se vestirem como “vadias”. Com uma mensagem clara, a de que as mulheres têm autonomia sobre os seus corpos, a marcha correu o mundo.

Importante pensar que esse cenário apresenta novas formas de experimentarmos a organização do coletivo, o compartilhamento de ideias e de afetos. Permitindo a propagação da sororidade e fazendo a sociedade se acostumar com as vozes femininas, que não deixarão de ecoar enquanto a igualdade de gênero não for uma realidade.

 

 

[1] A apreensão do movimento feminista em ondas se dá, sobretuto, para fins didáticos, uma vez que é ponto pacífico o fato desse movimento ter intensidade variada em diferentes contextos.

[2] Escritora indiana que entende como subalterno os indivíduos em condição de desigualdade na sociedade. Sua provocação nos faz pensar sobre o que ela perguntava: o subalterno pode falar? (no sentido de permissão). Ou se o subalterno pode no sentido de ser capaz, de saber falar. Ou ainda, se ela estaria surpresa ante a possibilidade de um subalterno falar.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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