A Feminização da Velhice. - Generalizando
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A Feminização da Velhice.

O relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), divulgado em janeiro de 2020, em Santiago no Chile, apontou para os obstáculos que as desigualdades de gênero impõem ao desenvolvimento sustentável. Os dados apresentados pela CEPAL mostram como a divisão sexual do trabalho e a injusta responsabilidade das mulheres com as tarefas de cuidado impactam no acesso delas a cargos mais valorizados no mercado de trabalho.

Dentre todas as questões e cenários apresentados pelo relatório, chama atenção a feminização da velhice. Mas o que será que isso significa? Ao observamos o perfil das pessoas mais velhas, nessa região, destaca-se o número significativamente maior de mulheres do que homens. Para cada 100 homens com 60 anos ou mais, existem 123 mulheres na mesma faixa etária, e na população de 80 anos ou mais, o número chega a 159 mulheres para cada 100 homens.

Existem diversas pesquisas e censos que mostram uma tendência de maior longevidade das mulheres do que dos homens. Isso se dá por vários fatores e um que não devemos perder de vista, aqui nessa discussão, é a questão cultural.

Sociedades marcadas pelo patriarcalismo e pelo machismo oprimem tanto as mulheres como os homens. Nesse tipo de arranjo social, os homens são criados e educados para serem os provedores e, para serem fortes e imbatíveis. Esse fato impacta, por exemplo, na saúde desses indivíduos pois, os homens tendem a procurar menos orientação médica, realizar exames preventivos, o que os colocam em situação de maior fragilidade quando se trata da saúde.

O cenário citado acima permite pensarmos em uma feminização da velhice. Mas qual é o impacto disso? Como é possível verificar, a cultura patriarcal e sexista pode servir de explicação para entendermos porque as mulheres vivem mais que os homens. Por outro lado, o sistema econômico capitalista e neoliberal, também baseado em uma lógica sexista, oprime economicamente as mulheres. Elas se configuram na parcela mais pobre das sociedades, as que carecem de maior cuidado e atenção dos Estados e Governos, de acordo com os dados apresentados pela CEPAL.  Dessa forma, faz-se necessário a implementação de políticas públicas que busquem reconhecer, a contribuição das mulheres para a economia, por meio do trabalho doméstico e de cuidados não remunerados, bem como, uma distribuição mais justa das cargas de trabalho.

Com isso, se faz necessário que os Estados atuem de maneira significativa para promoverem serviços e benefícios mais justos no que tange o trabalho doméstico e de cuidados. Caso contrário, as famílias, ou seja, em boa parte dos casos, as mulheres, terão que responder individualmente e cada vez mais, às demandas de atendimento aos idosos, muitas vezes às custas da sua participação no mercado de trabalho e de sua realização pessoal e profissional.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

2 Comentários
  • Avatar
    Nelma Guedes Paes Barreto
    Publicado em 17:51h, 30 julho Responder

    Excelente, como sempre, Marusa!

    • Marusa Silva
      Marusa Silva
      Publicado em 11:40h, 21 agosto Responder

      Obrigada, Nelma!

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