A força que vem da mulher negra - Generalizando
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A força que vem da mulher negra

A força que vem da mulher negra

Há alguns dias atrás fui ao lançamento do livro de uma antiga professora que se tornou uma pessoa amiga. Nesse evento pude reencontrar algumas outras amigas que, por conta da correria diária, fazia algum tempo que não via. Em especial, duas mulheres que estavam concluindo o doutorado. Uma me contava sobre os detalhes da tese e o desafio da escrita, quando é preciso conciliar com o trabalho e com um filho adolescente. A outra, também envolvida com a tese, mas ainda no processo de pesquisa de campo, falava do novo empreendimento e da exposição que iria fazer no fim de semana.

Esses encontros foram energizantes, afinal estar com pessoas pelas quais nutrimos carinho e amizade nos faz muito bem e nos encoraja a continuar.  Mas, além disso, esses encontros me fizeram constatar a força incrível que brota do íntimo de muitas mulheres. As três amigas/personagens que fazem parte deste texto, cada uma à sua maneira, escrevem suas histórias e inspiram muitas outras mulheres a sua volta.

A estrela da noite, a mulher que lançava o livro,  é professora universitária. Uma mulher negra que apresentava na obra os resultados da sua tese de doutorado. Mas, não se trata apenas disso! Existe um outro importante significado nesse evento que é mostrar que a ciência é também lugar de mulher e de mulher preta, quanta inspiração para tantas outras!

A minha amiga que está finalizando a escrita da sua tese, prestes a defendê-la, tem uma história de superação. Depois de conseguir se livrar de um relacionamento abusivo e de vivenciar episódios de racismo,  juntou os cacos e se refez. A finalização do doutorado e a recente publicação de um livro de poesia são importantes etapas desse processo de reconstrução/superação.

Não nos esqueçamos que neste breve relato que faço existe mais uma personagem. Uma mulher igualmente forte, potente e inspiradora que está escrevendo sua história também com elementos de superação. Mãe solo, como milhares na nossa sociedade, está realizando seu doutorado e se dividindo entre a docência e o empreendedorismo. Seu negócio é uma loja online de acessórios para vinho. A proposta é: menos regras, mais vinhos. Sim, mulheres e vinhos! Mulheres pretas e vinho!

As três histórias possuem vários atravessamentos, pois se tratam de mulheres negras ocupando espaços que historicamente foram negados a  elas. A ciência, a academia e a pesquisa ainda são nichos masculinos e brancos. E o que dizer sobre empreendimentos? Sobre vinhos? Esse produto é permeado por uma percepção de sofisticação que parece não ser permitida a algumas pessoas, como por exemplo às mulheres negras.

Vejam vocês como, cada uma dessas mulheres que aparecem nesse pequeno texto, estão escrevendo suas histórias ao mesmo tempo em que desafiam e quebram paradigmas e preconceitos e se tornam inspiração para muitas que as cercam.

Apesar de todos os obstáculos e desafios que as mulheres, sobretudo as mulheres negras, precisam enfrentar no dia a dia, se deparar com histórias como as apresentadas acima somos encorajadas ao mesmo tempo, esses exemplos nos permitem esperançar como bem ensinou Paulo Freire. Esperançar é construir, levar adiante e não desistir.

Esse encontro me fez pensar em como essas mulheres, como tantas outras que existem por aí, têm nos mostrado e nos ensinado que é possível fazer diferente, outros modos, outras formas, não sem resistência, sem desafios, mas acima de tudo sem desistir.

Por mais que ainda seja forte a tentativa de silenciar essas vozes e impedir que espaços sejam de fato ocupados por elas, fica uma pequena demonstração de que elas não irão recuar até que possamos, verdadeiramente, perceber a igualdade.

 

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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