Qual é o preço a pagar para se enquadrar nos “padrões de beleza”?
Qual é o preço a pagar para se enquadrar nos “padrões de beleza”?
Todo mundo já deve ter ouvido dizer que beleza é algo relativo, ou que tem a ver com a personalidade ou com inteligência, mas será que acreditamos mesmo nisso? Será que as imagens e estímulos que nós mulheres recebemos desde a mais tenra idade comprovam isso? Imagino que não!
Ao contrário, o que a cultura de base patriarcal nos ensina é que a beleza está relacionada ao corpo magro e depilado, a cor da pele não negra, aos cabelos longos e lisos além de outras tantas exigências. Por mais que estejamos, na atualidade, vivenciando um movimento que celebra a diversidade de corpos, cores, cabelos e traços, será que existe uma real valorização desses outros formatos que não os idealizados?
Esse padrão de beleza cruel e desumano faz com que mulheres se percebam sempre como inadequadas sob o ponto de vista estético, consolidando a ideia de que há sempre um padrão a ser seguido e que vale à pena todo o esforço para se enquadrar.
Nesse cenário, até mesmo aquelas mulheres consideradas belas, a partir dessas referências padronizadas de beleza, buscam sempre melhorar, harmonizar os traços, reduzir medidas, um círculo vicioso que parece não ter fim, uma vez que essa perfeição parece nunca ser atingida.
A beleza é relativa na medida em que ela está relacionada ao contexto histórico, por exemplo, durante o Renascimento (séc. XIV a XVI), os corpos femininos eram representados com formas avantajadas relacionando a ideia de fertilidade. O corpo magro como modelo de beleza só passa a ser referência na virada do século XIX para o século XX, a partir daí o que vemos é uma pressão cultural para que os corpos femininos sigam esse padrão.
Quando se define, mesmo que simbolicamente, o que é um padrão de beleza, exclui-se a maioria das mulheres que não se enquadram nele. Sobretudo, quando esse padrão é distanciado das características de um povo, como é o caso do Brasil. Nossa sociedade é miscigenada, temos heranças africanas e indígenas, então o padrão loira, magra e de cabelo liso não pode ser alcançado pela maioria das mulheres brasileiras.
Esse modelo traz sérias consequências, que vão desde o aumento da insatisfação das mulheres com seus corpos, problemas e/ou distúrbios como anorexia até a busca de tratamentos e cirurgias que podem colocar em risco a vida dessas pessoas.
De acordo com uma pesquisa divulgada em dezembro de 2019 pela ISAPS[1], com dados 2018, o Brasil registrou a realização de mais de 1 milhão de cirurgias plásticas, além de 969 mil procedimentos estéticos não cirúrgicos. Estes números fazem com que o nosso país se torne o campeão entre os países que mais realizam procedimentos estéticos no mundo.
No domingo dia 24/01/2021, a influenciadora Liliane Amorim, de 26 anos, morreu por complicações causadas por uma cirurgia de lipoaspiração. Infelizmente esse não é um caso isolado, pelo contrário, são razoavelmente frequentes as notícias de mulheres mortas ou hospitalizadas em decorrência de procedimentos estéticos. No entanto, serve de exemplo para nos fazer repensar um retrato cruel da busca incessante pelo “corpo perfeito”, que é impulsionado por uma cultura patriarcal (a mulher para ser consumida) e por um mercado lucrativo.
Uma realidade que faz com que as mulheres, até mesmo aquelas que estão dentro dos ditos padrões de beleza, transformem seus corpos em verdadeiros campos de batalha. Quem lucra com isso? Quem se beneficia com isso? Fica claro que em nenhuma dessas respostas as mulheres são as verdadeiras contempladas.
[1] Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética.
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