“Revisionismo histórico” e a busca pela diversidade em Bridgerton - Generalizando
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“Revisionismo histórico” e a busca pela diversidade em Bridgerton

“Revisionismo histórico” e a busca pela diversidade em Bridgerton

A nova aposta da Netflix, a série Bridgerton, já está causando burburinhos nas redes sociais. Um projeto que ganha a assinatura de Shonda Rhimes (Grey`Anatomy, Scandal e How To Get Away With Murder) é uma adaptação da saga literária de Julia Quinn, com roteiro de Chris Van Dusen e se passa na Londres do século XIX.

A série poderia ser mais uma história de romance, com todo os clichês deste tipo de produção, se não fossem alguns interessantes debates apresentados no decorrer da trama (gênero; diversidade).

Chama atenção o “revisionismo histórico”, como um tipo de acerto de contas com parcelas da sociedade que foram silenciadas historicamente. Com isso, o que vemos em Bridgerton é a representação da sociedade inglesa do século XIX, onde mulheres e homens negros ocupam posição de destaque e são detentores de títulos de nobreza.

O que a série faz é colocar personagens negros no centro da produção. Quem manda e desmanda naquela Londres é uma mulher negra, a rainha Charllote, mulher de George III, monarcas que estavam no comando da Inglaterra entre 1811 e 1820, quando se passa a narrativa. A escolha de representar a rainha negra se baseia em especulações históricas que apontam a ascendência africana da mandatária, que tem origem na realeza portuguesa. Além da rainha, há um duque riquíssimo, que também é negro, e é na casa de uma outra nobre dama negra da sociedade que as mulheres se reúnem para jogar e falar mal de seus casamentos arranjados.

A união do rei George III com Charllote é representada como o início de uma nova história para os negros da Inglaterra. Isso fica claro em alguns episódios da série, onde o esse matrimônio real é citado como a ruptura das barreiras de cor que existiam naquela sociedade. Por isso, o preconceito racial não entra em questão em Bridgerton e isso também chama a atenção. Os personagens negros são protagonistas, sem que a questão da cor da pele se apresente como um imperativo.

Algumas pesquisas historiográficas já demonstraram que os negros estavam presentes na Inglaterra do século XIX, algumas apontam para um número que gira em torno de 20 mil homens e mulheres negros. Assim, não cabe mais representar esse cenário como um lugar branco como muitas produções, historicamente fizeram e como as próprias narrativas históricas tradicionais se ocuparam de apagar.

Dessa forma, Bridgerton vai ao encontro das demandas por maior diversidade de corpos, rostos, raças e narrativas. Esse “revisionismo histórico” ficcional não pretende apagar o que aconteceu de fato na história com H maiúsculo, parece ser muito mais uma forma encontrada por autores para contar episódios da história incluindo indivíduos que sempre ficaram de fora deles e/ou foram representados de maneira estereotipada. Uma tendência que não deve ficar somente nas questões raciais, mas incluir também a desigualdade de gênero, colaborando assim para a desconstrução de estereótipos.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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