O racismo nosso de todo o dia - Generalizando
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O racismo nosso de todo o dia

O racismo nosso de todo o dia

Ah, Brasil! Tu foste forjado pelas mãos, pelo trabalho e pelo suor do povo negro. Homens e mulheres sequestrados do continente africano e tornados escravos na colônia portuguesa na América.

Na lida diária na lavoura de cana e de café, nas minas de ouro, na companhia das sinhazinhas, em tudo podemos ver as marcas deixadas pelos escravizados. Seja nas palavras utilizadas sempre no diminutivo, na música ou na canção de ninar os meninos pequenos. Jeitos, gostos, cores, ritmos e sabores. Temos uma pequena grande África negra dando forma a nossa sociedade.

O país formado por maioria negra e parda (IBGE) possui a marca da violência indelével na sua história. Violência que é perpetrada cotidianamente contra pessoas negras.

A violência que foi o instrumento de dominação utilizado pelos colonizadores portugueses, ganhou formas e contornos novos. Passou por uma processo de construção de uma narrativa que pretendia suavizá-la, desejando convencer a todos nós de que um país construído por matrizes culturais distintas (negro, branco e indígena) não poderia ser, jamais, racista. A tal democracia racial! Quanta falácia!

O discurso do “como se fosse da família” serviu e ainda serve para violar direitos humanos das empregadas domésticas, herança escravagista que se mantém intacta. O que dizer diante do caso de Yolanda, uma mulher negra, empregada doméstica que foi submetida a trabalho análogo a escravidão por cinquenta anos? Vivendo no cotidiano abusos de todos os tipos, físicos e verbais? O que dizer da patroa de Yolanda que teve o descaramento de afirmar que não pagava salário porque a considerava da família, uma irmã?

No país onde muitos ainda acreditam na existência da tal democracia racial, jovens negros têm sua vidas ceifadas precocemente como consequência do racismo estrutural. Mulheres negras são agredidas em espaços públicos por conta do seu cabelo, como aconteceu com a carioca Welica Ribeiro, agredida no metrô de São Paulo por uma mulher branca. Nesse caso, em específico, foi possível verificar a reação de uma multidão de pessoas indignadas com o ato de violência. Um sopro de esperança que revela também, que uma parte da sociedade não aceitará mais esse tipo de violência. Afinal, como já disse Angela Davis, não basta ser contra o racismo é preciso ser antirracista. Esse é um chamamento à responsabilidade. Cada um de nós devemos nos comprometer com o combate ao racismo. Com o compromisso com a construção de uma sociedade igualitária onde o preconceito e a discriminação serão tolerados.

A realidade vem nos mostrando que ainda é preciso muita luta para superar a violência racial. Os exemplos de racismo no Brasil são numerosos e cotidianos. A cada publicização de um novo caso fica a sensação da sofisticação da violência, do descaramento de quem é racista e da descrença total na justiça, sobretudo da parte de quem comete o crime.

Denunciar, combater, exigir reparação e punição faz parte do compromisso social com a luta antirracista. É preciso que todo racista saiba que não ficará impune. Que o seu ato não será normalizado. É preciso afirmar e fazer valer o lema “RACISTAS NÃO PASSARÃO”.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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