O machismo nosso de todo o dia X o levante feminista - Generalizando
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O machismo nosso de todo o dia X o levante feminista

O machismo nosso de todo o dia X o levante feminista

Tem chamado a atenção nos últimos dias alguns episódios de machismo que aconteceram na “casa mais vigiada do momento”. Estou me referindo ao reality show exibido pela TV Globo chamado “Big Brother Brasil”, em sua vigésima edição. As cenas de alguns participantes tocando partes íntimas das mulheres durante a dança e a tentativa de dois Brothers de “armar” contra as participantes Mari Gonzalez e Bianca Andrade, com a finalidade de fazer o público questionar a reputação das moças, que são casadas, é o assunto do momento.

Se o comportamento machista de alguns homens da “casa” foi alvo de críticas nas redes sociais, a união das meninas contra esse tipo de atitude, identificando-a como preconceituosa e abusiva, foi tão ou mais comentada. O que surpreendeu a todos e a todas foi o “levante feminista” que aconteceu na “casa”.

Esse cenário publicizado pela TV é como um reflexo da nossa sociedade. Escancara o machismo nosso de todo dia, disfarçado e naturalizado. O toque não permitido, visto como “nada demais”, já que era um momento de intimidade, durante uma dança concedida, o que não significa acesso livre ao corpo da mulher. A “estratégia” de causar um julgamento moral sobre a mulheres, que acaso se rendessem às investidas dos rapazes, seriam taxadas como “vagabundas”. É preciso questionar se o contrário aconteceria com a mesma intensidade se o envolvido fosse o homem. Será que planejar para que um homem casado se envolvesse com outra mulher da “casa” seria visto como uma estratégia válida para o jogo?

Também chamou atenção o depoimento do participante que teria “tramado” toda essa história, taxando as meninas de loucas. Há tempos lança-se mão do ato de constranger e fazer a vítima duvidar de sua própria memória e capacidade de entendimento. Essa é uma atitude clara de machismo. Desde a antiguidade, as insatisfações femininas eram tratadas como algum tipo de desvio e/ou doença mental. A palavra feminina, o depoimento de uma vítima de abuso e/ou assédio é, quase sempre, acompanhada de desconfiança e de dúvida.

Por outro lado, a união e a consciência, das meninas sobre o ocorrido pode significar um sopro de esperança para nós. Em uma sociedade sexista não se espera que mulheres apoiem mulheres, ao contrário, nós, todas nós, somos criadas e educadas para julgarmos umas às outras. O que houve ali foi um exemplo de sororidade, que é a empatia das mulheres com outras mulheres independente de classe ou cor. É também uma amostra de desnaturalização de comportamentos machistas, percebidos até os dias atuais como naturais. Estranhar comportamentos padrões é o primeiro passo para a transformação.

Com isso devemos pensar sobre o papel do feminismo. Ele é transformador, permite a autonomia e nos tornam capazes de identificar abusos e de nos posicionar contra esses abusos. Nos dá condição para lutar e acreditar na possibilidade de novos tempos.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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