Afinal, pai não é quem cria?
O assunto do momento nas redes sociais é a campanha publicitária da Natura referente ao dia dos pais, ou melhor, a polêmica em que essa peça publicitária foi transformada. Tudo isso, porque o influencer e empresário Tammy Miranda foi um dos escolhidos para participar da empreitada.
O que chocou, por incrível que pareça, algumas pessoas da “boa sociedade” foi o fato de uma pessoa trans promover ações em suas redes sociais sobre a campanha desse ano para a data comemorativa. Isso porque, como assinalavam alguns comentários, seria uma mulher interpretando o papel de pai. Antes de avançarmos, vamos entender o sentido do termo trans ou transgênero. Afinal a informação é um importante passo para combater o preconceito. Transgênero é o termo utilizado atualmente para abarcar as pessoas trans, por exemplo, um homem transgênero é aquele que foi identificado como mulher ao nascer, mas passou a ser reconhecer como homem, como é o caso de Tammy.
Durante muito tempo a transexualidade, assim como a homossexualidade, foi considerada um transtorno mental pela Organização Mundial da Saúde. Mas, em 2019, a instituição retirou essa classificação, o que significou uma vitória para esses indivíduos. Mesmo assim, casos de preconceito e transfobia são, ainda hoje, muito comuns. Foi isso o que vimo acontecer nas redes sociais nos últimos dias. Postagens preconceituosas e repleta de violência simbólica, questionavam e criticavam a postura da empresa na condução da publicidade do dia dos pais. Essas postagens utilizaram o argumento conservador de proteção à família tradicional e dos papeis tradicionais de gênero, questionaram o exercício da paternidade por um homem transgênero e reivindicavam o boicote à empresa.
Esse cenário não é de se estranhar, infelizmente. Basta olhar para os números de assassinatos de pessoas trans no Brasil para entender como a nosso sociedade é tóxica e preconceituosa. De acordo com dados publicados pela ONG Transgender Europe (TGEu), nos últimos 8 anos o Brasil matou ao menos 868 travestis e transexuais, números que nos colocam no topo do ranking dos países com mais registros de homicídios de pessoas trans. Outros dados, fruto de cruzamento de pesquisas da União Nacional LGBT e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o tempo médio de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos contra 75 anos da média da população geral. Números que causam horror.
Esse é o retrato da “boa sociedade” que é intolerante, preconceituosa, violenta e que não aceita a diversidade. Pessoas que questionam o direito de um homem transgênero exercer a paternidade, acreditam que isso faz dele incapaz de assumir o papel de pai? Ora, quantas mulheres no Brasil assumem o papel de pai e mãe, porque se viram sozinhas, com seus filhos para criar e isso não causa incômodo! Por que o boicote não se dá contra os pais que desaparecem da vida dos filhos? Dos que não assumem a paternidade responsável e afetiva? Dos que não pagam a pensão alimentícia?
Toda a energia dispensada nas atitudes transfóbicas nas redes sociais poderiam se direcionadas para o exercício da empatia, de se colocar no lugar do outro e de festejar a diversidade e suas formas de afetividade. A empresa, em nota, respondeu aos ataques afirmando seu compromisso com o respeito à diversidade, prática essa, inclusive exigida das empresas atualmente. Ao que parece, a tentativa dessa parcela de indivíduos de boicotar a empresa não deu certo. As ações da Natura dispararam no Ibovespa na última quarta-feira (29/07), sinalizando para o efeito contrário das manifestações de ódio propagadas nas redes sociais.
Rosangela
Publicado em 15:56h, 30 julhoTexto importante para o momento, esclarecedor. Pontua e contextualiza um assunto que necessita de problematização ética, humana e pedagógica. Chega de ignorância e preconceito! O conhecimento é a única saída para evolução humana e um mundo mais justo.
Marusa Silva
Publicado em 11:39h, 21 agostoVerdade, Rosangela! Só com o conhecimento podemos ultrapassar as barreiras que impedem a construção de uma sociedade mais justa para mulheres e homens.