O que comemorar no dia 15 de outubro? - Generalizando
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O que comemorar no dia 15 de outubro?

O que comemorar no dia 15 de outubro?

No dia 15 de outubro comemora-se o dia do professor. Essa data foi criada por Antonieta de Barros, umas das três primeiras mulheres eleitas no Brasil, a primeira negra, isso em 1934. Antonieta nasceu em Florianópolis, era filha de uma escrava liberta e tinha como bandeira política o poder revolucionário e libertador da educação para todos.

Em um ano atípico, como este que estamos vivenciando, essa data deve servir à reflexão. Não é novidade para ninguém que ser professor na nossa realidade é um imenso desafio. Escolas mal equipadas, pouco ou nenhum investimento na formação continuada dos professores, salários defasados estão na imensa lista da condição da educação no nosso país. Como dizia Darcy Ribeiro “a crise da educação não é uma crise, é um projeto”.

A precarização da educação brasileira tem efeitos negativos na valorização da imagem do professor. Nossas crianças e adolescentes se miram em modelos que são apresentados como de sucesso. Você, professor, que está lendo esse texto faça uma enquete em sua sala de aula e pergunte sobre que profissão seus alunos desejam ter. Muitos dirão: jogador de futebol, modelo, youtubers e muito outros irão se mirar nas profissões consideradas valorizadas na nossa sociedade como medicina, direito e engenharia. Talvez alguns poucos desejem se tornar professores.

E isso é no mínimo estranho porque as homenagens que recebemos nesse dia se resumem a nobreza dessa profissão, nunca vi uma nobreza tão pouco desejada. Mas, esse é  efeito de um longo histórico de descuido e desprezo pela educação no nosso país.

A pandemia atravessou nossas vidas e apresentou desafios para todos. Famílias, alunos e professores foram impactados pelo fechamento das escolas. Foi necessário mudar a maneira como se trabalhava, se aprendia e como se ensinava. As nossas casas se tornaram salas de aula. Tivemos que nos reinventar, desenvolver novas habilidades, aprender a manusear novas tecnologias, investir em equipamentos e em muitos casos sem apoio nenhum do Estado. Tudo por nossa conta, como sempre foi.

Quantos de nós, em nossas escolas, precisamos “dar o nosso jeito” para realizar um projeto, concluir um trabalho, organizar um evento e alcançar o objetivo da aula. Resumos no quadro porque não há livro didático disponível para todos os alunos. Trabalhos em cartolinas que você leva de casa, junto com aquele estojo enorme com lápis de cor, canetinha, tesoura, cola e revistas para recorte, para ter certeza que nenhum aluno deixará de participar da atividade porque não tem o material e a escola não disponibiliza. E sim, mesmo diante das novas tecnologias utilizadas na educação, em muitas escolas brasileiras os trabalhos são realizados em cartolinas. O acesso a tecnologia não é democrático em nosso país. Muitas escolas não contam com um  laboratório de informática. Livros de literatura são reproduzidos por nossa conta e divididos em capítulos para serem distribuídos entre os alunos, que não podem comprar e porque não há biblioteca na escola.

Talvez por tudo isso a nossa profissão seja considerada um missão. Acreditar na educação como instrumento de transformação social mesmo diante de tantas dificuldades, desafios e desigualdades não é tarefa das mais fáceis.

Por isso, o dia de hoje, além das justas homenagens deve ter como foco a reflexão sobre a atual realidade da educação no Brasil. Defender a escola pública, reivindicar uma educação de qualidade deve ser pauta prioritária de todos os governantes e toda a sociedade tem um papel fundamental nesse contexto. Esse é o único caminho para que a bandeira de Antonieta de Barros se concretize, para que a educação se torne instrumento de liberdade e autonomia para todes.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

2 Comentários
  • Avatar
    Nilza Anido Lira
    Publicado em 20:55h, 15 outubro Responder

    Parabéns!
    Texto bastante realista e verdadeiro!
    Infelizmente o Professor em nossos dias chegou ao limite de sua resistência. Com raríssimas exceções de algumas instituições particulares, o que vemos é a desvalorização contínua da profissão que deveria ser a mais prestigiada, o que não acontece!
    Lamentável!

  • Avatar
    Kariny
    Publicado em 21:47h, 16 outubro Responder

    Estou impactada com esse texto! Que reflexão!
    Gratidão, amiga!

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