Consciência Negra: Em que página estamos? - Generalizando
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Consciência Negra: Em que página estamos?

Consciência Negra: Em que página estamos?

O mal está feito senhores, mas não o aumentemos cada vez mais; ainda é tempo de emendar a mão. José Bonifácio de Andrada e Silva

 

No próximo dia 20 de novembro é celebrado o dia da consciência negra. Essa data é um marco importante para a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Esse dia foi escolhido por marcar a morte de Zumbi dos Palmares em 1695, uma das principais lideranças negras do Brasil na luta pela liberdade dos escravizados.

Foi em meados do século XVI, que começaram a ser trazidos para a colônia portuguesa na América, os homens e mulheres do continente africano. Aqui eles foram forçados a trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar e nos engenhos.

Entretanto, o modelo de submissão e de apropriação dos corpos negros pelos colonizadores encontrou inúmeras resistências ao longo da nossa história. Da formação dos quilombos até o movimento abolicionista na segunda metade do século XIX. A resistência se fazia de forma coletiva e também individual e com a participação de mulheres.

Um caso ilustrativo é o de Maria da Conceição, moradora da Vila de Nossa Senhora da Ajuda de Jaguaripe, no recôncavo sul da Bahia, e que foi vítima de prática ilícita de “reduzir pessoa livre à escravidão”. Durante do período de 1830 a 1876 permaneceu ilegalmente como escrava.[1]

Maria da Conceição era filha de Antônia Francisca uma escrava liberta e foi sequestrada aos 10 anos de idade. Desde então viveu em cativeiro, até que em 1876, com 56 anos de idade, conseguiu permissão de sua senhora para ir à Vila de Jaguaripe onde deu entrada em uma ação de liberdade contra seus “pretensos senhores”. Conceição reclamava não só a sua liberdade como a de suas duas filhas e de seus setes netos. Uma ação que envolvia uma família inteira escravizada ilegalmente no recôncavo baiano. Esse é o processo mais antigo do acervo do Supremo Tribunal Federal.[2]

A ilegalidade do caso citado acima não é uma exceção quando se trata de pessoas negras no Brasil. Um país que conviveu com a escravidão durante três séculos e procurou resistir de todas as formas a abolição,  optou por não fazer esforços significativos para a inclusão dos negros na sociedade.

As consequências dessa escolha podem ser vistas a olho nu, o aprofundamento da desigualdade social com um significativo atravessamento de cor. Além do racismo estrutural e institucional como arcabouço organizador da nossa sociedade, como afirmou José Bonifácio em 1823, o mal já havia sido feito, era necessário mitigar seus efeitos. A luta precisa continuar, por isso a reflexão realizada no dia 20 de novembro deve ser um compromisso para todos os dias, porque como disse Angela Davis “em uma sociedade racista não basta ser contra o racismo é preciso ser antirracista”.

 

 

[1] Para saber mais:

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21862019000100101

[2] Disponível em: http://www.stf.jus.br. Acessado em: 19/11/2020.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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