Grey´s Anatomy: quais são as lições feministas da série?
Grey´s Anatomy: quais são as lições feministas da série?
Pode ser que você nunca tenha assistido a série americana Grey´s Anatomy, mas provavelmente já ouviu falar. Se ao contrário, você está assistindo, preciso alertá-la para possíveis spoilers ao longo do texto.
A produção está na sua décima sétima temporada e é sucesso mundial, algo muito difícil de se manter, em caso de séries longas. Para além do enredo que envolve dramas e tramas que têm como cenário o Seattle Grace Hospital (para aqueles que ainda estão no começo da história), a série apresenta uma rica reflexão sobre igualdade de gênero, diversidade e representatividade feminina.
Personagens fortes, complexas e cheias de personalidade nos instigam a todo o momento a questionar padrões naturalizados de gênero. Meredith Grey, Cristina Yang, Miranda Bailey, Callie Tores, Arizona Robbins…são algumas das mulheres interessantíssimas da série, todas elas criadas por Shonda Rhimes roteirista premiada e feminista negra.
A protagonista da série, Meredith Grey tenta equilibrar a carreira com a vida pessoal, ou seja, com marido e filhos. Uma personagem imperfeita, contraditória e traumatizada, como muitas mulheres na vida real. Cresceu, assim como muitas pessoas, sem a presença do pai, que definiu a experiência da paternidade encerrada após o término de um casamento. Possuía uma relação intensa e conflituosa com a mãe e se tornou uma cirurgiã talentosa, que quase nunca falha, até porque não é dada à mulher o direito de falhar com as suas responsabilidades, mesmo se estiverem destroçadas por dentro.
Meredith, vive uma relação conturbada e de codependência, com um homem que em um primeiro momento não está disponível, emocionalmente, para ela ou que espera que ela seja uma donzela que ele possa salvar. Um modelo que ela se negará a se enquadrar. A carreira e seus projetos terão lugar central em algumas de suas escolhas, como por exemplo, quando decide não se mudar de Seattle para acompanhar o marido.
Cristina Yang é uma personagem fascinante. Determinada, confiante, ambiciosa, rejeitou o amor romântico e a maternidade compulsória por compreender que seriam entraves para a consolidação de sua carreira, que sempre foi o seu objetivo central. Apesar das significativas diferenças entre as duas personagens, Meredith e Cristina vivem uma relação de amizade, amor, cumplicidade e empatia. Com isso, a premiada série chama atenção para a necessidade de desconstrução da ideia de rivalidade entre as mulheres. A pessoa da Meredith é a Cristina e não o Derek. A pessoa da Cristina é a Meredith e não o Owen. Mas, o que significa ser a pessoa de alguém? Neste contexto, significa aquele com quem você pode contar sempre, em qualquer momento e em qualquer situação.
O primeiro grande trabalho de Shonda Rhimes para a televisão quebrou paradigmas, apresentando em suas tramas a diversidade racial, sexual e de gênero. Miranda Bailey, é uma personagem que traz à tona a interseccionalidade – gênero e raça -, mulher negra, de baixa estatura, fora dos padrões de beleza socialmente construídos e aceitos. Ela alcançou o mais alto cargo na sua área, enfrenta os problemas da vida pessoal e profissional com firmeza e determinação mesmo sendo vítima de discriminações de gênero e de raça.
Callie Tores e Arizona Robbins são médicas e cirurgiãs, lésbicas e chefes de seus departamentos. O caso de Callie, me parece ser ainda mais simbólico, uma vez que atua em uma área da medicina que é bastante masculinizada, a ortopedia. Duas mulheres fortes, inteligentes, determinadas que vivenciam as dores de ser mulher e lésbica em um espaço dominado por homens brancos e heterosexuais.
Shonda Rhimes nos apresenta mulheres, em toda a sua multiplicidade (negras, lésbicas, instáveis, inseguras, fortes, determinadas, ambiciosas, etc.,) em lugares que, historicamente, foram vedados à elas. Com tramas que se passam dentro de um hospital, em meio a bisturis, sangue e suturas, debates importantíssimos para o empoderamento feminino e a celebração da diversidade são apresentados com maestria pelas mãos de uma mulher negra, que se tornou a roteirista mais bem paga da televisão americana. Novamente, quebrando paradigmas e mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser.
As personagens de Grey´s Anatomy e os dramas vividos por elas são próximos da vida real. Essas mulheres são espelhos (incômodos, desconfortáveis e que são difíceis de evitar) refletindo a vulnerabilidade que encontramos em nós mesmas e nas nossas experiências. Mas, não é apenas isso, elas são também potência, um sopro forte e contínuo de empoderamento e sororidade, distribuídos nos vários capítulos de suas temporadas. Como não recordar a cena de despedida de Cristina Yang, quando disse à Meredith que ela era o sol e não o Derek. Lembrem-se disso, nós somos o sol da nossa própria vida. E, como sabemos o sol nasceu para brilhar, então brilhe MULHER!
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