Por que a Campanha da Fraternidade de 2021 incomoda alguns?
Por que a Campanha da Fraternidade de 2021 incomoda alguns?
A Campanha da Fraternidade é uma iniciativa de evangelização popular da Igreja Católica. Lançada durante a quaresma, a campanha traz, tradicionalmente, uma reflexão sobre a realidade social e a experiência da fé.
Apesar de ser realizada todo o ano, a cada cinco anos é feita de forma ecumênica, buscando o diálogo com outras denominações cristãs. Nesses anos, o tema é escolhido por membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e não apenas pelo colegiado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que abrange somente a Igreja Católica.
Em 2021, em uma perspectiva ecumênica, o tema proposto foi “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é nossa paz: do que era dividido fez a unidade”. O texto-base da campanha aponta a necesidade de atenção aos cuidados contra a propagação da COVID-19, reprovando a “negação da ciência”, além de reforçar a urgência de políticas de defesa aos direitos humanos das mulheres, negros e da comunidade LGBTQI+. Com isso, reconhece que essa é a população que mais sofre com o preconceito e com a violência. Como alerta, o texto da campanha apresenta dados dos últimos Atlas da Violência, que apontam que em 2018 foram registrados 1.618 casos de violência contra a população LGBTQI+ e 420 homicídios.
Apesar da campanha trazer em seu bojo a necessidade de um olhar solidário e de ação prática no combate a violência contra as minorias sociais, a explícita defesa à comunidade LBGTQI+ no texto-base causou reações nos grupos católicos conservadores, que se posicionaram contra, usando sobretudo, as redes sociais para criticá-la. Entre as críticas estão aquelas que pedem o boicote à campanha, pedindo que os fiéis não façam doações.
Esse cenário mostra como muitos desses fiéis, principalmente os mais fundamentalistas, não estão preocupados com temas como o escolhido pela campanha deste ano. Parte das críticas são fundamentadas em informações inverídicas sobre a experiência LGBTQI+ que servem à manutenção de relações de poder que mantêm a desigualdade e a violência contra as minorias.
Toda polêmica em torno da campanha se baseia também nos interesses de líderes religiosos e políticos em ganhar reconhecimento gerando um falso pânico moral onde eles se colocam como salvadores daquilo que eles mesmos inventaram como sendo ameaça à família, à criança e à sociedade. Não considerando que a experiência de fé cristã, baseada na vivência de Cristo, envolve amor, compaixão e solidariedade para com todos aqueles que sofrem.
Além disso, o posicionamento dos críticos é um exemplo de negação à realidade plural em que vivemos e a radicalização de posturas contrárias à construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. Pense bem, o que chocou na campanha? Foi o convite para toda comunidade religiosa pensar, avaliar e identificar possíveis caminhos para a superação das polarizações e da violência presente no mundo atual.
Enquanto o tema da campanha propõe uma ação propositiva dos cristãos no sentido da mudança e do diálogo, os contrários a essa proposta lançam uma contracampanha, mal intencionada, pautada em inverdades e fakenews. Na verdade, um desserviço, que revela a intenção de dividir e não unir, em um momento em que a polarização está a todo vapor.
O tema deste ano é uma importante sinalização da sintonia da Igreja com os graves problemas sociais que atingem, sobretudo os mais vulneráveis. Um significativo passo na promoção da consciência social e do diálogo. No entanto, isso incomodou muito aqueles que vivem sua fé de forma descontextualizada, como aos que se interessam pela continuidade de uma sociedade desigual, polarizada e intolerante.
Angélica Lira
Publicado em 15:53h, 18 fevereiroMuito bom mesmo. Vc é maravilhosa em expor temas tão polêmicos. Parabéns, minha querida. Cada dia mais tenho orgulho de vc. Beijos.