Patroas e empregadas no cenário de Coronavírus - Generalizando
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Patroas e empregadas no cenário de Coronavírus

Patroas e empregadas no cenário de Coronavírus

No momento de preocupação e insegurança por que passa todo o mundo por conta da pandemia do coronavírus, as mazelas sociais tornam esse cenário ainda mais triste e cruel.

No dia 17 de março, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro anunciou que uma mulher de 63 anos morreu acometida com o COVID-19. Essa mulher, trabalhava como empregada doméstica, morava no trabalho e contraiu a doença da patroa que havia viajado para a Itália e que testou positivo para o coronavírus. Essas informações foram divulgadas pela própria prefeitura do Rio de Janeiro.

A patroa contrariou todas as recomendações de segurança quando não dispensou a empregada doméstica. Esse fato gerou uma grande comoção nas redes sociais. Várias pessoas se solidarizando com a categoria das empregadas doméstica e clamando para que os patrões as liberem. O manifesto foi nomeado de “quarentena remunerada”.

Essa situação preocupa porque a categoria das domésticas possui um alto índice de informalidade e afeta, na sua maioria, as mulheres. Elas são na América Latina e no Caribe, 93% da mão de obra empregada no serviço doméstico. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, em 2013 nas Américas, 8 em cada 10 empregadas domésticas estavam na informalidade.

Com um histórico enraizado de desvalorização, com profundos recortes de classe, gênero e raça, o exército de trabalhadoras domésticas, que todos os dias utilizam o transporte público para chegar ao trabalho, está entre aqueles grupos mais expostos ao novo coronavírus. Com receio de não ter salário, sobretudo por conta da informalidade, muitas continuarão se arriscando nas ruas, nos ônibus, nos trens e nos lares onde trabalham, dependendo da boa vontade das elites empregadores para dispensá-las sem prejuízo de renda.

Essas mulheres inexistem para o Estado de bem-estar social. Empobrecidas, famintas, adoecidas sofrerão na pele a política de distanciamento social podendo ser essa, uma sentença de morte. São mulheres invisíveis, que possuem sua existência conectada aos espaços privilegiados, até mesmo depois de ser tornar vítima da desigualdade e do egoísmo de classe, como bem mostrou Djamila Ribeiro em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, no dia 19 de março, sobre a empregada de 63 anos no Rio de Janeiro.

Os canais de informação ao anunciarem o caso optaram pela invisibilidade e pelo status de não sujeito da empregada doméstica. Sua existência foi, repetidas vezes, condicionada a existência da patroa, que mora no metro quadrado mais caro do Brasil.

É preciso pensar sobre isso….

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

1 Comentário
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    Kariny
    Publicado em 16:01h, 25 março Responder

    Que texto forte amiga!

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