Permita-se descansar - Generalizando
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Permita-se descansar

Permita-se descansar

No primeiro texto do ano, gostaria de falar sobre a necessidade de descansar, sobretudo para nós mulheres que estamos sempre sobrecarregadas.

Em um mundo onde as relações de trabalho passam por um processo de precarização, onde exige-se cada vez mais produtividade e disponibilidade, se permitir descansar e desconectar soa quase como um crime. Isso porque o tempo não considerado como produtivo pelo capital é interpretado como desperdício.

Em primeiro lugar porque como dito acima, a nova sociedade do trabalho espera que estejamos sempre conectados e prontos para responder as demandas imediatamente. Em segundo porque a palavra descanso parece não fazer parte do vocabulário das mulheres, uma vez que estamos sempre sendo solicitadas para resolver questões domésticas. Afinal como uma mãe pode tirar férias?

Paras os homens em geral o relógio marca aquela separação nítida entre “trabalho” e “vida”, para as mulheres isso nunca foi tão claro. Com a entrada maciça das mulheres no mundo do trabalho, há uma justaposição de tempos, dando origem uma dupla jornada, sempre desgastante. Por isso, o movimento feminista colocou as tarefas domésticas sob o prisma do trabalho e exigiu reconhecimento pelo tempo que as mulheres passam cozinhando, lavando ou cuidando dos filhos.

Inúmeros estudos demonstram que as mulheres sofrem com a sobrecarga de tarefas que, em muitos casos, não são consideradas ou não são visíveis para os outros. O trabalho incessante de cuidar de realizar o serviço doméstico e o cuidado com os filhos, somado às exigências do trabalho realizado fora do lar trazem consequências gravíssimas para a saúde física e mental das mulheres.

Permita-se descansar. E quando digo que é preciso se permitir quero com isso demonstrar que devemos descansar sem aquele sentimento de culpa que teima em aparecer nesses raros e breves momentos. Afinal, em uma sociedade onde o tempo é controlado pelo capital e se orienta por uma lógica patriarcal se permitir descansar, desacelerar e desconectar é subversivo!

Desejo que nesse novo ano que se inicia possamos nos permitir viver mais e melhor!

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

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