A tristeza escondida atrás do mito da maternidade: por que quase nunca perguntamos se as mães estão bem?
A fala emocionada da duquesa Meghan Markle, ao ser perguntada (para a produção de um documentário inglês sobre a vida da família real), como estava se sentido, como mãe de primeira viagem, trouxe à tona uma questão delicada. À pergunta a duquesa respondeu bastante comovida que, ultimamente as pessoas não têm perguntado como ela está. A resposta em tom de desabafo vai ao encontro do quanto a sociedade espera que as recentes mães estejam e sintam-se felizes e realizadas. Após o nascimento de um bebê quase não nos importamos com ela, a mãe, a não ser para convencê-la de que aquele momento deve ser encarado como a completude da vida de uma mulher. Na verdade, é como se soubéssemos que a mãe está feliz porque é assim que deve ser.
A maternidade e os mitos que a envolvem não são nem de longe e, nem para todas as mulheres, o momento de extrema felicidade que a sociedade reproduz. Muitas mães, durante o puerpério, sentem-se inseguras, frágeis e sozinhas. Precisam de atenção e de cuidado e mais, precisam saber que isso é normal.
O fato de não se sentir complemente realizada e feliz após o nascimento de um filho não significa que você é uma péssima mãe ou um ser humano deplorável. Significa apenas que esse é um período de muitas mudanças, que precisa ser digerido e que isso leva tempo.
O peso dado à maternidade em nossa sociedade e também, à mulher como principal responsável pelos cuidados e criação com os filhos, mina a autoconfiança e a felicidade de muitas mães. Como já pontuava Bandinter (1971), o mito do amor materno é um fenômeno que colocam sobre nossos ombros e nem sempre estamos dispostos e preparados para carrega-lo.
Com isso, aquelas que sofrem durante o puerpério, que sentem uma tristeza e insegurança profundas, que desenvolvem depressão pós-parto, são julgadas como mulheres más ou melindrosas. Afinal, como pode estar infeliz com o nascimento de um filho? Àquelas que optam por não tê-los são consideradas egoístas e perdem, de fato, a patente de mulher.
Toda essa lógica reproduz uma relação de extrema violência, simbólica e psicológica, que é preciso desconstruir. As mulheres, por mais que tenham desejado e planejado ser mães, podem sim se sentir frágeis, inseguras e não realizadas após o nascimento do bebê. E isso é normal. Enquanto reproduzirmos essa lógica do amor materno sem limites e com base essencialista, não importa que sejamos duquesas ou plebeias, todas nós nos sentiremos inseguras, tristes, sozinhas e culpadas.
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