Olimpíadas é lugar para o debate feminista? - Generalizando
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Olimpíadas é lugar para o debate feminista?

Olimpíadas é lugar para o debate feminista?

O início dos jogos olímpicos foi marcado por muita expectativa. Depois do adiamento das Olimpíadas em 2020, por conta da pandemia de COVID-19, todos os olhares estavam voltados para Tóquio, aguardando as emoções que esse tipo de evento costuma despertar em todos os espectadores e amantes de esportes. A cerimônia de abertura, sem público na arquibancada,  chamou atenção pela mensagem de união, superação e esperança em tempos de pandemia, homenageando os profissionais que atuaram na linha de frente do combate a COVID e os atletas que enfrentaram inúmeras dificuldades para conseguir participar dos jogos.

Os jogos olímpicos têm como característica apresentar para o mundo histórias e personagens curiosos e por vezes emocionantes, muitos se tornam importantes exemplos de coragem, determinação e superação. Em 2021 as atletas estão chamando atenção para o debate feminista. As ginastas da Alemanha, por exemplo,  revolucionaram ao adotar malhas compridas que cobrem as pernas até o tornozelo no lugar das tradicionais malhas curtas. De acordo com as próprias atletas, essa foi uma forma de manifesto contra o excesso de sexualização das ginastas e pelo direito delas escolherem a roupa que quiserem usar.

A crítica ao excesso de sexualização, em alguns esportes, dos corpos das atletas já vem ganhando terreno antes mesmo do início dos jogos olímpicos. No campeonato europeu de handebol feminino, as jogadoras da seleção da Noruega, na disputa pela medalha de bronze, se recusaram a usar biquíni e foram multadas em 1.500 euros por “trajes inadequados”. No handebol de praia o biquíni é o traje obrigatório para as mulheres.

Contudo, não se deve perder de vista que, a atitude das ginastas alemãs em um evento como as olimpíadas tem o poder de potencializar o debate. Mas, você pode se perguntar, por que afinal esse debate é importante? Ele é importante, dentre outras coisas, porque chama atenção para a forma como os corpos femininos são tratados como objetos sexualizados e utilizados como chamariz de público, audiência e patrocinadores. Sobretudo, após inúmeras denúncias, em países diferentes, de abusos sofridos pelas atletas por seus técnicos e/ou equipe.

Interessante pensar que ao mesmo tempo que as mulheres são criticadas e julgadas por vestirem roupas curtas demais, em outros espaços, a depender do objetivo, a crítica é ao fato de se cobrirem demais, como aconteceu com as jogadoras de handebol da noruega e as ginastas alemãs. No entanto, é importante ressaltar a relevância dessas atitudes que questionam e desafiam as estruturas.

A nadadora Alice Dearing é a primeira atleta negra da natação a disputar medalhas pela Grã-Bretanha. Alice costuma usar, nas competições das quais participa, uma touca específica para cabelos afro, mas os organizadores da Olimpíada de Tóquio proibiram sob a justificativa de que a touca “não acompanha o tamanho normal da cabeça”. É bom frisar, isso está acontecendo nos jogos olímpicos de 2021 e não de 1900.

Não é de hoje que os jogos olímpicos se tornaram palco de atuação e questionamento das atletas que sempre buscaram ocupar lugar e chamar atenção para as condições às quais as mulheres são submetidas no mundo dos esportes. Os jogos de 2021 reforçam essa tendência. O que vimos até agora foram atitudes que confrontam padrões naturalizados de discriminações e que nos mostram a importância de continuar lutando por igualdade em todos os espaços.

Faz mais de 50 anos que as mulheres saíram às ruas nas passeatas de 68 e, como ato simbólico, queimaram os seus sutiãs. Mas, ainda hoje, as meninas precisam lutar por coisas  básicas como usar o tipo de roupa que preferirem ou de manter o cabelo, como bem quiserem e mesmo assim competir.

Os corpos das mulheres ainda são absurdamente controlados em todos os espaços sociais, por isso o debate feminista é importante, pois ele, dentre outras coisas, denuncia práticas como essas. A pequena amostra dos jogos olímpicos de Tóquio, até agora,  parece revelar que as mulheres não aceitarão mais isso e que estão preparando uma pequena, mas não menos importante, revolução.

Marusa Silva

Marusa Silva

Doutora em Sociologia Política, pesquisadora e autora de livros e artigos sobre desigualdade de gênero e integrante do Atelier de estudos de gênero da Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

2 Comentários
  • Avatar
    Suellen
    Publicado em 22:57h, 29 julho Responder

    É sensacional cada contribuição entregue a nós, por você. Sempre brilhante!
    Orgulho demais por ser sua aluna, Fada Marusinha!

    • Marusa Silva
      Marusa Silva
      Publicado em 10:49h, 19 agosto Responder

      Suellen, orgulho de você!

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